Jurdy Junior
Entrevista com William Powers sobre reação às novas tecnologias
Na peça de Shakespeare, quando o fantasma do pai pede que se lembre dele, Hamlet promete apagar todos os registros "da tábua da minha mente" para se concentrar na memória do pai --e na vingança de sua morte.
A tábua, "table" no original, é "O BlackBerry de Hamlet", título do livro de William Powers que sai no Brasil um ano e meio após entrar para os mais vendidos do "New York Times", nos EUA.
Leia abaixo a íntegra da entrevista com Powers:
Seu livro abre com Sócrates. No diálogo que você menciona, ele fala contra a palavra escrita e Fedro fala contra a cidade, o ambiente. Essas visões têm paralelo com os dias de hoje?
Sim. Comecei a parte filosófica do livro com esse diálogo porque ele levanta temas que acredito que são importantes hoje.
Um é que nós somos criaturas sociais, queremos conhecer nosso ambiente e nosso mundo e, para prosperar nele, precisamos de informação e de outras pessoas. Sócrates, em seu amor pela cidade e pela comunicação oral, é um grande exemplo disso. Você pode dizer que ele era viciado na palavra falada. Mas, da maneira como Fedro entende, em parte por causa do conselho que ouve de um médico, nós também precisamos de alguma distância de nossa conectividade, de modo a poder fazer algo útil com ela. Para refletir sobre ela; para talvez levar o mundo em que vivemos a uma situação melhor; para refletir sobre aquelas informações e fazer algo novo com elas e levar de volta ao mundo.
Isso é o que a caminhada simboliza para mim, é a importância de manter alguma distância da multidão nas nossas vidas. Para mim, a multidão de Atenas, a cidade movimentada, é uma espécie de metáfora ou substituto para a movimentada multidão digital em que estamos navegando hoje, todos os dias.
Mas Sócrates também é cético com a novíssima tecnologia que chegou, a palavra escrita, e para mim isso é um lembrete de que, mesmo quando buscamos nos distanciar da tecnologia, não devemos ter a mente fechada. Não devemos temer a tecnologia da maneira como algumas pessoas temem hoje.
Não sei quanto ao Brasil, mas aqui temos pessoas que são basicamente luditas, que acreditam que o mundo está sendo destruído pela conectividade digital. Eu não acredito nisso, sou um otimista, e queria mostrar que mesmo alguém tão brilhante como Sócrates poderia entender errado. Essa é uma espécie de alerta na história: tenha consciência de que não devemos ver só o lado ruim da nova tecnologia, mas também o lado bom, os benefícios. O que, é claro, Platão viu, porque ele decidiu usar exatamente a tecnologia que Sócrates condena, para registrar o diálogo.
A metáfora mais interessante, ao menos para mim, é exatamente aquela que você leva ao título, o BlackBerry de Hamlet. A "tábua" mencionada já era uma metáfora em si mesma, para a visão de Shakespeare da nova tecnologia da época, que era a imprensa.
Sim.
É a mesma ideia ou você vê diferença com o que menciona de Platão?
Eu falo bastante sobre o livro, agora já tem um ano e meio que venho tratando publicamente dele, e na verdade essa é a mais difícil de abordar, embora seja o título, porque as ideias que levanto naquele capítulo são um pouco sutis. Vou tentar abordar os diferentes níveis que trabalho nele.
Em primeiro lugar, sim, a tábua de Hamlet faz um paralelo com o nosso próprio tempo tecnológico. É um aparelho, uma nova invenção que as pessoas amavam e na qual eram viciadas, durante uma revolução tecnológica. O que é diferente é que ela é uma combinação entre o velho e o novo, usa uma tecnologia, a escrita à mão, que as pessoas pensavam que morreria, na era da imprensa. E que na verdade se tornou mais útil, num tempo em que as pessoas se sentiam oprimidas pelo peso de todos aqueles impressos sendo empilhados ao seu redor. E pela incapacidade de estar a par de tudo, um excesso [overload] de informação, digamos.
Elas podiam escrever algo temporariamente e fazer com que desaparecesse, trazendo portanto alguma ordem às suas vidas malucas e se mostrando capazes de navegar a revolução mais efetivamente. Nesse sentido, era diferente dos nossos aparelhos, que tendem ao excesso hoje. E é um modelo de como a tecnologia pode nos ajudar a ir para a frente, para um quadro melhor, e tornar a carga um pouco mais leve.
Em segundo lugar, eu simplesmente gosto da linguagem metafórica que Shakespeare usa, quando Hamlet fala de seu "globo alterado" e de "apagar a tábua da mente", tentando se livrar de toda aquela desordem. Isso me fez lembrar tanto os desafios que enfrentamos, com nossas distrações de hoje, como o desejo que temos de ser capazes de aliviar a carga e tornar a vida um pouco mais administrável.
Todas essas coisas estão de certa maneira empacotadas nesse capítulo. Sou muito cético das pessoas que dizem que o futuro será digital e não haverá utilidade para velhas tecnologia como o papel impresso. Realmente acho que não é o caso. Portanto, a maneira como o BlackBerry de Hamlet, a tábua, usa a velha tecnologia da escrita à mão tem a ver com isso também.
O subtítulo de seu estudo original em Harvard, em 2006, era "Por que o papel é eterno". Isso não o torna também um ludita?
Não, não. No ensaio eu argumento que a razão por que o papel será eterno, na minha opinião, é que as tecnologias digitais vão evoluir, de maneira que farão por nós o que o papel sempre fez. O papel pode até desaparecer, mas será como se não percebêssemos, porque teremos aparelhos que trabalham por nós da mesma maneira que o papel faz.
Por exemplo, existe essa visão de um e-book que terá centenas de páginas e que você vai tocar e sentir como um papel, virar as páginas com as mãos. O que seria muito útil, penso eu, porque somos seres corporificados e é bom trabalhar com uma tecnologia corporificada. E o e-book será atualizável e você poderá transformá-lo em qualquer livro que queira. Portanto, acredito que estamos caminhando para um futuro que, de forma irônica, será moldado pela nossa experiência com o impresso.
Ainda que gostemos de pensar que estamos vivendo uma ruptura com o passado, eu vejo mais como uma evolução contínua, uma tecnologia se sobrepondo à outra. É a ideia que eu estava querendo lançar com o ensaio, que eu imaginava que teria um papel muito maior no livro. No rascunho, era um capítulo inteiro. Mas meu editor ficava dizendo que ele não cabia no livro e eu deveria deixá-lo como ensaio. Foi o que decidi fazer, no fim.
Li um texto na "New Yorker" que elogia, mas também questiona seu livro. Pega a parte que oferece uma saída ao vício tecnológico --desligar tudo o que é digital-- e aponta como contradição que você aceita manter a TV ligada. A televisão não assusta mais, como antes?
Em primeiro lugar, sobre esse texto, eu fiquei feliz de ser discutido na "New Yorker", mas não penso que o autor, Adam Gopnik, leu o livro todo, porque me classifica na categoria errada, das pessoas que gostariam que as novas tecnologias nunca tivessem aparecido. E eu penso que sou de outra categoria, das pessoas que acreditam que estavamos atravessando um ciclo que sempre atravessamos e que é algo normal. Acho que o livro foi mal interpretado.
Mas sim, quanto à questão da televisão, como eu nasci nos anos 60, para mim ela é perfeitamente natural, não uma ruptura. E acredito que esse é um aspecto natural de todo período que você atravessa. As pessoas que nascem com a tecnologia se ajustam mais facilmente.
Ouço muito uma pergunta, "isso não significa que os jovens de hoje não têm problemas com o excesso de informação e com o vício digital?". E eu sempre contraponho que encontro muitos jovens que se sentem conectados com o livro, que agora é parte do currículo de um monte de universidades. Porque nossa atenção só vai até uma certa capacidade de expansão, pela natureza do cérebro. Isso significa que, em algum nível, todos estamos tendo de nos ajustar a essa nova inundação de informação. É uma inundação muito rica, com grande potencial, mas também um desafio.
Você esteve no último festival South by Southwest, que priorizou essa corrida para lidar com o excesso de informação digital.
Sim.
Neste ano, além do excesso de informação, o SXSW deve focar também realidade aumentada ["augmented reality"] e inteligência expandida, esse tipo de discussão. Como você vê essa questão, da tecnologia tornando nossas mentes e nossas realidades maiores e sem limites?
Acredito que estamos no caminho de um sentido expandido de realidade, de uma conexão expandida com a realidade, graças às nossas ferramentas. Falo de uma dessas visões no livro, em que as paredes dos prédios serão cabeadas e a capacidade de conexão com a informação estará ao nosso redor _e portanto será como se parte de nossas mentes estivesse lá fora, no mundo. Teremos uma espécie de consciência expandida, o que vejo como uma possibilidade maravilhosa. Acredito que chegaremos lá mais efetivamente se nos mantivermos com os pés no chão.
Lembre-se que também trazemos muito poder e potencial à equação. As máquinas são extraordinárias e vão nos ajudar, mas muitas vezes não levamos em conta que a mente humana é o aparelho mais complexo e poderoso criado no Universo, de que temos notícia. E somos tão importantes para a equação quanto qualquer computador. Daí essa ideia de equilíbrio entre nossa vidas digitais e não digitais ser tão crucial para mim. Porque queremos manter nossas mentes tão arraigadas na realidade e trazer nossas próprias conclusões e conexões à mesa, para que a realidade expandida seja tão rica quanto possível.
Ao mesmo tempo, você está agora mergulhado na tecnologia, com a Bluefin Labs.
Vou trabalhar nesse projeto ao longo do próximo ano. É uma startup de tecnologia, que saiu do MIT, e criou novas maneiras de identificar padrões e extrair significados da conversação de mídia social, especialmente do Twitter. Vou aplicar a tecnologia na campanha presidencial americana. Será uma nova maneira de ler o público. O livro tem uma série de mensagens, e uma delas é sobre o potencial criativo do digital. Vejo esse projeto como uma tentativa de ir mais fundo, como escrevo no livro, de levar a tecnologia a lugares mais profundos.
Publicado em: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1046403-livro-explora-reacao-as-novas-tecnologias.shtml
A tábua, "table" no original, é "O BlackBerry de Hamlet", título do livro de William Powers que sai no Brasil um ano e meio após entrar para os mais vendidos do "New York Times", nos EUA.
Leia abaixo a íntegra da entrevista com Powers:
Seu livro abre com Sócrates. No diálogo que você menciona, ele fala contra a palavra escrita e Fedro fala contra a cidade, o ambiente. Essas visões têm paralelo com os dias de hoje?
Sim. Comecei a parte filosófica do livro com esse diálogo porque ele levanta temas que acredito que são importantes hoje.
Um é que nós somos criaturas sociais, queremos conhecer nosso ambiente e nosso mundo e, para prosperar nele, precisamos de informação e de outras pessoas. Sócrates, em seu amor pela cidade e pela comunicação oral, é um grande exemplo disso. Você pode dizer que ele era viciado na palavra falada. Mas, da maneira como Fedro entende, em parte por causa do conselho que ouve de um médico, nós também precisamos de alguma distância de nossa conectividade, de modo a poder fazer algo útil com ela. Para refletir sobre ela; para talvez levar o mundo em que vivemos a uma situação melhor; para refletir sobre aquelas informações e fazer algo novo com elas e levar de volta ao mundo.
Isso é o que a caminhada simboliza para mim, é a importância de manter alguma distância da multidão nas nossas vidas. Para mim, a multidão de Atenas, a cidade movimentada, é uma espécie de metáfora ou substituto para a movimentada multidão digital em que estamos navegando hoje, todos os dias.
Mas Sócrates também é cético com a novíssima tecnologia que chegou, a palavra escrita, e para mim isso é um lembrete de que, mesmo quando buscamos nos distanciar da tecnologia, não devemos ter a mente fechada. Não devemos temer a tecnologia da maneira como algumas pessoas temem hoje.
Não sei quanto ao Brasil, mas aqui temos pessoas que são basicamente luditas, que acreditam que o mundo está sendo destruído pela conectividade digital. Eu não acredito nisso, sou um otimista, e queria mostrar que mesmo alguém tão brilhante como Sócrates poderia entender errado. Essa é uma espécie de alerta na história: tenha consciência de que não devemos ver só o lado ruim da nova tecnologia, mas também o lado bom, os benefícios. O que, é claro, Platão viu, porque ele decidiu usar exatamente a tecnologia que Sócrates condena, para registrar o diálogo.
A metáfora mais interessante, ao menos para mim, é exatamente aquela que você leva ao título, o BlackBerry de Hamlet. A "tábua" mencionada já era uma metáfora em si mesma, para a visão de Shakespeare da nova tecnologia da época, que era a imprensa.
Sim.
É a mesma ideia ou você vê diferença com o que menciona de Platão?
Eu falo bastante sobre o livro, agora já tem um ano e meio que venho tratando publicamente dele, e na verdade essa é a mais difícil de abordar, embora seja o título, porque as ideias que levanto naquele capítulo são um pouco sutis. Vou tentar abordar os diferentes níveis que trabalho nele.
Em primeiro lugar, sim, a tábua de Hamlet faz um paralelo com o nosso próprio tempo tecnológico. É um aparelho, uma nova invenção que as pessoas amavam e na qual eram viciadas, durante uma revolução tecnológica. O que é diferente é que ela é uma combinação entre o velho e o novo, usa uma tecnologia, a escrita à mão, que as pessoas pensavam que morreria, na era da imprensa. E que na verdade se tornou mais útil, num tempo em que as pessoas se sentiam oprimidas pelo peso de todos aqueles impressos sendo empilhados ao seu redor. E pela incapacidade de estar a par de tudo, um excesso [overload] de informação, digamos.
Elas podiam escrever algo temporariamente e fazer com que desaparecesse, trazendo portanto alguma ordem às suas vidas malucas e se mostrando capazes de navegar a revolução mais efetivamente. Nesse sentido, era diferente dos nossos aparelhos, que tendem ao excesso hoje. E é um modelo de como a tecnologia pode nos ajudar a ir para a frente, para um quadro melhor, e tornar a carga um pouco mais leve.
Em segundo lugar, eu simplesmente gosto da linguagem metafórica que Shakespeare usa, quando Hamlet fala de seu "globo alterado" e de "apagar a tábua da mente", tentando se livrar de toda aquela desordem. Isso me fez lembrar tanto os desafios que enfrentamos, com nossas distrações de hoje, como o desejo que temos de ser capazes de aliviar a carga e tornar a vida um pouco mais administrável.
Todas essas coisas estão de certa maneira empacotadas nesse capítulo. Sou muito cético das pessoas que dizem que o futuro será digital e não haverá utilidade para velhas tecnologia como o papel impresso. Realmente acho que não é o caso. Portanto, a maneira como o BlackBerry de Hamlet, a tábua, usa a velha tecnologia da escrita à mão tem a ver com isso também.
O subtítulo de seu estudo original em Harvard, em 2006, era "Por que o papel é eterno". Isso não o torna também um ludita?
Não, não. No ensaio eu argumento que a razão por que o papel será eterno, na minha opinião, é que as tecnologias digitais vão evoluir, de maneira que farão por nós o que o papel sempre fez. O papel pode até desaparecer, mas será como se não percebêssemos, porque teremos aparelhos que trabalham por nós da mesma maneira que o papel faz.
Por exemplo, existe essa visão de um e-book que terá centenas de páginas e que você vai tocar e sentir como um papel, virar as páginas com as mãos. O que seria muito útil, penso eu, porque somos seres corporificados e é bom trabalhar com uma tecnologia corporificada. E o e-book será atualizável e você poderá transformá-lo em qualquer livro que queira. Portanto, acredito que estamos caminhando para um futuro que, de forma irônica, será moldado pela nossa experiência com o impresso.
Ainda que gostemos de pensar que estamos vivendo uma ruptura com o passado, eu vejo mais como uma evolução contínua, uma tecnologia se sobrepondo à outra. É a ideia que eu estava querendo lançar com o ensaio, que eu imaginava que teria um papel muito maior no livro. No rascunho, era um capítulo inteiro. Mas meu editor ficava dizendo que ele não cabia no livro e eu deveria deixá-lo como ensaio. Foi o que decidi fazer, no fim.
Li um texto na "New Yorker" que elogia, mas também questiona seu livro. Pega a parte que oferece uma saída ao vício tecnológico --desligar tudo o que é digital-- e aponta como contradição que você aceita manter a TV ligada. A televisão não assusta mais, como antes?
Em primeiro lugar, sobre esse texto, eu fiquei feliz de ser discutido na "New Yorker", mas não penso que o autor, Adam Gopnik, leu o livro todo, porque me classifica na categoria errada, das pessoas que gostariam que as novas tecnologias nunca tivessem aparecido. E eu penso que sou de outra categoria, das pessoas que acreditam que estavamos atravessando um ciclo que sempre atravessamos e que é algo normal. Acho que o livro foi mal interpretado.
Mas sim, quanto à questão da televisão, como eu nasci nos anos 60, para mim ela é perfeitamente natural, não uma ruptura. E acredito que esse é um aspecto natural de todo período que você atravessa. As pessoas que nascem com a tecnologia se ajustam mais facilmente.
Ouço muito uma pergunta, "isso não significa que os jovens de hoje não têm problemas com o excesso de informação e com o vício digital?". E eu sempre contraponho que encontro muitos jovens que se sentem conectados com o livro, que agora é parte do currículo de um monte de universidades. Porque nossa atenção só vai até uma certa capacidade de expansão, pela natureza do cérebro. Isso significa que, em algum nível, todos estamos tendo de nos ajustar a essa nova inundação de informação. É uma inundação muito rica, com grande potencial, mas também um desafio.
Você esteve no último festival South by Southwest, que priorizou essa corrida para lidar com o excesso de informação digital.
Sim.
Neste ano, além do excesso de informação, o SXSW deve focar também realidade aumentada ["augmented reality"] e inteligência expandida, esse tipo de discussão. Como você vê essa questão, da tecnologia tornando nossas mentes e nossas realidades maiores e sem limites?
Acredito que estamos no caminho de um sentido expandido de realidade, de uma conexão expandida com a realidade, graças às nossas ferramentas. Falo de uma dessas visões no livro, em que as paredes dos prédios serão cabeadas e a capacidade de conexão com a informação estará ao nosso redor _e portanto será como se parte de nossas mentes estivesse lá fora, no mundo. Teremos uma espécie de consciência expandida, o que vejo como uma possibilidade maravilhosa. Acredito que chegaremos lá mais efetivamente se nos mantivermos com os pés no chão.
Lembre-se que também trazemos muito poder e potencial à equação. As máquinas são extraordinárias e vão nos ajudar, mas muitas vezes não levamos em conta que a mente humana é o aparelho mais complexo e poderoso criado no Universo, de que temos notícia. E somos tão importantes para a equação quanto qualquer computador. Daí essa ideia de equilíbrio entre nossa vidas digitais e não digitais ser tão crucial para mim. Porque queremos manter nossas mentes tão arraigadas na realidade e trazer nossas próprias conclusões e conexões à mesa, para que a realidade expandida seja tão rica quanto possível.
Ao mesmo tempo, você está agora mergulhado na tecnologia, com a Bluefin Labs.
Vou trabalhar nesse projeto ao longo do próximo ano. É uma startup de tecnologia, que saiu do MIT, e criou novas maneiras de identificar padrões e extrair significados da conversação de mídia social, especialmente do Twitter. Vou aplicar a tecnologia na campanha presidencial americana. Será uma nova maneira de ler o público. O livro tem uma série de mensagens, e uma delas é sobre o potencial criativo do digital. Vejo esse projeto como uma tentativa de ir mais fundo, como escrevo no livro, de levar a tecnologia a lugares mais profundos.
Publicado em: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1046403-livro-explora-reacao-as-novas-tecnologias.shtml
Vivo Internet Móvel
Campanha da Vivo mostra uma tendência da nossa sociedade de valorizar as experiências virtuais em detrimento das reais.
HAL voltou. Ele é bonzinho (por enquanto)
HAL é personagem de ficção científica. Criado em um livro de Arthur C. Clarke e adaptado para o cinema por Stanley Kubrick em 2001 - uma odisseia no espaço, o computador de Heurística ALgorítmica (daí o nome) era um sistema de inteligência artificial em uma espaçonave. Distribuído por boa parte dos equipamentos, ele não tinha uma "cara". Sua interação com os tripulantes se dava através de uma câmara e uma voz suave e ponderada. Tudo ia bem até que um conjunto de informações contraditórias deixou a máquina sem saber o que fazer. Para resolver o conflito sua lógica fria chegou à conclusão que o melhor era matar todos a bordo.
O fantasma de uma inteligência superior desprovida de moral ou escrúpulos é antigo. Mas nos últimos tempos ele deixou o reino sobrenatural para habitar o tecnológico. Chame-o de Viki em "Eu, Robô", de Mother em "Alien" ou de Auto em "Wall-E", o Cérebro Eletrônico é cada vez mais real, mesmo que seja difícil materializá-lo. Há 35 anos HAL assombrava a imaginação do cinema com sua capacidade de falar, reconhecer voz, identificar faces, computar linguagem natural, jogar xadrez, interpretar emoções, raciocinar e apreciar arte. Desses talentos, só os dois últimos ainda não se transformaram em realidade.
Travestido de Siri, Watson ou Google Now, HAL está de volta e sua espaçonave é a Terra. Ele não é mais um computador que pode ser desligado, mas uma rede de servidores distribuídos pelo mundo, resiliente e descentralizada como a própria Internet.
Tecnologias nascem grandes, vão diminuindo até se tornarem invisíveis. À medida que aumentam as capacidades da conexão sem fio, do reconhecimento de voz, da computação em nuvem e dos dispositivos móveis, a ideia de assistentes virtuais torna-se cada vez mais prática, ajudando seus usuários confusos e sobrecarregados face à complexidade da tecnologia a saber o que fazer e como decidir.
Apesar de pouco popular no Brasil por depender de aparelhos ainda sofisticados e não falar português, a tecnologia por trás desses serviços é espantosa. Sua maior vantagem está em uma interpretação diferente do reconhecimento de voz. Enquanto os sistemas tradicionais trabalhavam com estruturas sintáticas, os novos agem como um estrangeiro que não fala bem a língua, identificando determinadas palavras e, através delas, deduzindo seu contexto.
Identificado o desejo de seu amo, o assistente busca a informação desejada em bases de dados espalhadas pela rede, bastando para isso o acesso a suas APIs. A informação é analisada por servidores remotos, que transcrevem a pergunta, buscam seu significado e vão atrás da resposta que pareça mais provável. Sua "intuição" é baseada nas relações que os conceitos descobertos estabelecem com o contexto enfrentado. A resposta é convertida para voz, que sugere a ação mais provável. Os fãs do gênero talvez se lembrem desta cena do filme "O Exterminador do Futuro". É mais ou menos o espírito, só que politicamente correto.
Para se dar uma ideia do tamanho e utilidade do projeto basta fazer uma busca simples na rede. No fechamento desta coluna, a busca por "chocolate" resultava em aproximadamente um bilhão e cem milhões de respostas no Google, 387 milhões no Yahoo e 113 milhões no Bing. Cabe a quem pesquise identificar e selecionar a melhor de acordo com seu contexto - e não reclamar. Para as máquinas, pouco importa quem pesquisa, onde pesquisa, como pesquisa: as respostas são uniformes. Encarregado da mesma tarefa, um assistente não traria milhões de respostas, mas pouquíssimas opções. Como um corretor ortográfico ao sugerir palavras quando identifica um erro.
Esses serviços não são mais mecanismos de busca, mas de ação. Em vez de trazer listas de links eles conversam, decidem e agem. Dos três maiores projetos em andamento hoje, Siri é o mais abrangente. Sua tecnologia é tão impressionante que foi adquirida pela Apple por cerca de 200 milhões de dólares para se tornar exclusividade em seus novos aparelhos. Antes que o empreendedor em você se anime, vale dizer que a empresa comprada não surgiu em uma garagem. Ela é fruto do maior projeto em Inteligência Artificial dos Estados Unidos: uma iniciativa militar que buscava construir um assistente virtual capaz de aprender e raciocinar, em busca de uma única resposta a partir de um cenário complexo de informação.
O projeto foi pedido para a SRI, um instituto de pesquisa independente derivado da Universidade de Stanford, responsável por tecnologias como a impressora a jato de tinta e monitores de cristal líquido. Seu orçamento era colossal: cerca de 150 milhões de dólares em 2003, o suficiente para reunir centenas de especialistas de alto nível em uma iniciativa inimaginável para laboratórios corporativos: ensinar computadores a aprender em ambientes abertos, baseados apenas na observação de comportamentos.
O protótipo desenvolvido era capaz de organizar e priorizar informações, criar documentos e mediar comunicações com pessoas. Ao participar de uma reunião, gerava a ata, determinava e acompanhava tarefas, detectava os papéis de cada participante, alocava e administrava tempo e recursos.
Em 2008, quando a pesquisa se encerrou, a SRI liberou a tecnologia. De lá surgiu uma startup chamada Siri, e o resto é conhecido. Se hoje esse serviço parece um acessório dos novos iPhones, iPads e iPods, perfumaria para quem não o utiliza, é bem possível que chegue o dia em que os tão amados gadgets eletrônicos se tornem meros acessórios para a tecnologia. Desde sua compra, advogados e políticas corporativas vem atrasando sua expansão. É preciso negociar com cada base de dados e localizar o serviço para os quase cem países que comercializam legalmente o iPhone. Mas não há dúvida que ele logo se tornará bem popular.
Outra versão dessa tecnologia é o Google Now. Não tem os recursos da Siri, mas aprende rápido. E tem uma vantagem imbatível: a memória. O histórico de uso da Internet traz mais informações a respeito de seus usuários do que aparenta. Quando interligadas, as extensas bases de dados e sistemas de recomendação podem identificar seus usuários e saber qual o melhor dia e hora para pedir uma pizza, telefonar para a mãe ou fazer ginástica. Um pesquisador da Universidade Carnegie-Mellon descobriu que a simples combinação de três dados aparentemente inocentes como gênero, CEP e data de nascimento podem identificar cerca de 87% da população dos Estados Unidos. Não é preciso ser fã de ficção científica para saber do que o Google, encarregado de e-mail, agenda, localização, busca e bookmarks é capaz.
Um terceiro participante dessa corrida para a construção do assistente é a IBM. Seu supercomputador Watson, que conquistou o mundo em 2011 ao vencer um programa de perguntas de auditório, está sendo adaptado para ajudar em diagnósticos médicos, consultando grandes volumes de informação desorganizada na forma de anotações, entrevistas, artigos acadêmicos e registros orais e gerando opções de diagnóstico a partir de conversas com o paciente e consulta a exames. E aprendendo com eles.
Esses serviços mostram o rascunho de um mundo povoado por assistentes de inteligência artificial a se ocupar das tarefas comuns ou tediosas. Sua ideia, como a do HAL, não é substituir o homem, mas torná-lo mais eficiente naquilo que já faz. Tecnologias de reconhecimento de emoções poderão ser capazes de surpreender seus usuários estressados ou deprimidos. Assistentes burocráticos podem eliminar muitas funções de balcão e secretaria. Não demorará para surgirem aplicativos conselheiros para a vida afetiva, mudando o sentido daquilo que conhecemos hoje por auto-ajuda para "ajuda automática".
Essa dependência da tecnologia, naturalmente, assusta. Ela pode facilitar o acesso a algoritmos que explorem nossas fraquezas para realizar ações que nem o mais mesquinho dos publicitários imaginaria. Mas vale considerar que aos olhos dos antigos as novas gerações sempre estarão perdidas por serem frágeis demais, mesmo que sejam capazes de feitos inimagináveis para os que os precederam.
Até a hora em que, por uma falha ou conclusão do sistema, tenhamos nos tornado empecilhos.
Publicado em: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/luliradfahrer/1255073-hal-voltou-ele-e-bonzinho-por-enquanto.shtml
Cultura da Convergência
Henry Jenkins investiga o alvoroço em torno das novas mídias e expõe as importantes transformações culturais que ocorrem à medida que esses meios convergem. Ele nos introduz aos fãs de Harry Potter, que estão escrevendo suas próprias histórias, enquanto os executivos se debatem para controlar a franquia. Ele nos mostra como o fenômeno Matrix levou a narrativa a novos patamares, criando um universo que junta partes da história entre filmes, quadrinhos, games, websites e animações.
Título: Cultura da Convergência
Autor: Henry Jenkins
Editora: Aleph
Valor: R$69,00
Título: Cultura da Convergência
Autor: Henry Jenkins
Editora: Aleph
Valor: R$69,00
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