E se o Google tivesse sido inventado na década de 1980?

Entrevista com William Powers sobre reação às novas tecnologias

Na peça de Shakespeare, quando o fantasma do pai pede que se lembre dele, Hamlet promete apagar todos os registros "da tábua da minha mente" para se concentrar na memória do pai --e na vingança de sua morte.

A tábua, "table" no original, é "O BlackBerry de Hamlet", título do livro de William Powers que sai no Brasil um ano e meio após entrar para os mais vendidos do "New York Times", nos EUA.

Leia abaixo a íntegra da entrevista com Powers:

Seu livro abre com Sócrates. No diálogo que você menciona, ele fala contra a palavra escrita e Fedro fala contra a cidade, o ambiente. Essas visões têm paralelo com os dias de hoje?

Sim. Comecei a parte filosófica do livro com esse diálogo porque ele levanta temas que acredito que são importantes hoje.

Um é que nós somos criaturas sociais, queremos conhecer nosso ambiente e nosso mundo e, para prosperar nele, precisamos de informação e de outras pessoas. Sócrates, em seu amor pela cidade e pela comunicação oral, é um grande exemplo disso. Você pode dizer que ele era viciado na palavra falada. Mas, da maneira como Fedro entende, em parte por causa do conselho que ouve de um médico, nós também precisamos de alguma distância de nossa conectividade, de modo a poder fazer algo útil com ela. Para refletir sobre ela; para talvez levar o mundo em que vivemos a uma situação melhor; para refletir sobre aquelas informações e fazer algo novo com elas e levar de volta ao mundo.


Isso é o que a caminhada simboliza para mim, é a importância de manter alguma distância da multidão nas nossas vidas. Para mim, a multidão de Atenas, a cidade movimentada, é uma espécie de metáfora ou substituto para a movimentada multidão digital em que estamos navegando hoje, todos os dias.

Mas Sócrates também é cético com a novíssima tecnologia que chegou, a palavra escrita, e para mim isso é um lembrete de que, mesmo quando buscamos nos distanciar da tecnologia, não devemos ter a mente fechada. Não devemos temer a tecnologia da maneira como algumas pessoas temem hoje.

Não sei quanto ao Brasil, mas aqui temos pessoas que são basicamente luditas, que acreditam que o mundo está sendo destruído pela conectividade digital. Eu não acredito nisso, sou um otimista, e queria mostrar que mesmo alguém tão brilhante como Sócrates poderia entender errado. Essa é uma espécie de alerta na história: tenha consciência de que não devemos ver só o lado ruim da nova tecnologia, mas também o lado bom, os benefícios. O que, é claro, Platão viu, porque ele decidiu usar exatamente a tecnologia que Sócrates condena, para registrar o diálogo.

A metáfora mais interessante, ao menos para mim, é exatamente aquela que você leva ao título, o BlackBerry de Hamlet. A "tábua" mencionada já era uma metáfora em si mesma, para a visão de Shakespeare da nova tecnologia da época, que era a imprensa.
Sim.

É a mesma ideia ou você vê diferença com o que menciona de Platão?
Eu falo bastante sobre o livro, agora já tem um ano e meio que venho tratando publicamente dele, e na verdade essa é a mais difícil de abordar, embora seja o título, porque as ideias que levanto naquele capítulo são um pouco sutis. Vou tentar abordar os diferentes níveis que trabalho nele.

Em primeiro lugar, sim, a tábua de Hamlet faz um paralelo com o nosso próprio tempo tecnológico. É um aparelho, uma nova invenção que as pessoas amavam e na qual eram viciadas, durante uma revolução tecnológica. O que é diferente é que ela é uma combinação entre o velho e o novo, usa uma tecnologia, a escrita à mão, que as pessoas pensavam que morreria, na era da imprensa. E que na verdade se tornou mais útil, num tempo em que as pessoas se sentiam oprimidas pelo peso de todos aqueles impressos sendo empilhados ao seu redor. E pela incapacidade de estar a par de tudo, um excesso [overload] de informação, digamos.

Elas podiam escrever algo temporariamente e fazer com que desaparecesse, trazendo portanto alguma ordem às suas vidas malucas e se mostrando capazes de navegar a revolução mais efetivamente. Nesse sentido, era diferente dos nossos aparelhos, que tendem ao excesso hoje. E é um modelo de como a tecnologia pode nos ajudar a ir para a frente, para um quadro melhor, e tornar a carga um pouco mais leve.

Em segundo lugar, eu simplesmente gosto da linguagem metafórica que Shakespeare usa, quando Hamlet fala de seu "globo alterado" e de "apagar a tábua da mente", tentando se livrar de toda aquela desordem. Isso me fez lembrar tanto os desafios que enfrentamos, com nossas distrações de hoje, como o desejo que temos de ser capazes de aliviar a carga e tornar a vida um pouco mais administrável.

Todas essas coisas estão de certa maneira empacotadas nesse capítulo. Sou muito cético das pessoas que dizem que o futuro será digital e não haverá utilidade para velhas tecnologia como o papel impresso. Realmente acho que não é o caso. Portanto, a maneira como o BlackBerry de Hamlet, a tábua, usa a velha tecnologia da escrita à mão tem a ver com isso também.

O subtítulo de seu estudo original em Harvard, em 2006, era "Por que o papel é eterno". Isso não o torna também um ludita?
Não, não. No ensaio eu argumento que a razão por que o papel será eterno, na minha opinião, é que as tecnologias digitais vão evoluir, de maneira que farão por nós o que o papel sempre fez. O papel pode até desaparecer, mas será como se não percebêssemos, porque teremos aparelhos que trabalham por nós da mesma maneira que o papel faz.

Por exemplo, existe essa visão de um e-book que terá centenas de páginas e que você vai tocar e sentir como um papel, virar as páginas com as mãos. O que seria muito útil, penso eu, porque somos seres corporificados e é bom trabalhar com uma tecnologia corporificada. E o e-book será atualizável e você poderá transformá-lo em qualquer livro que queira. Portanto, acredito que estamos caminhando para um futuro que, de forma irônica, será moldado pela nossa experiência com o impresso.

Ainda que gostemos de pensar que estamos vivendo uma ruptura com o passado, eu vejo mais como uma evolução contínua, uma tecnologia se sobrepondo à outra. É a ideia que eu estava querendo lançar com o ensaio, que eu imaginava que teria um papel muito maior no livro. No rascunho, era um capítulo inteiro. Mas meu editor ficava dizendo que ele não cabia no livro e eu deveria deixá-lo como ensaio. Foi o que decidi fazer, no fim.

Li um texto na "New Yorker" que elogia, mas também questiona seu livro. Pega a parte que oferece uma saída ao vício tecnológico --desligar tudo o que é digital-- e aponta como contradição que você aceita manter a TV ligada. A televisão não assusta mais, como antes?
Em primeiro lugar, sobre esse texto, eu fiquei feliz de ser discutido na "New Yorker", mas não penso que o autor, Adam Gopnik, leu o livro todo, porque me classifica na categoria errada, das pessoas que gostariam que as novas tecnologias nunca tivessem aparecido. E eu penso que sou de outra categoria, das pessoas que acreditam que estavamos atravessando um ciclo que sempre atravessamos e que é algo normal. Acho que o livro foi mal interpretado.

Mas sim, quanto à questão da televisão, como eu nasci nos anos 60, para mim ela é perfeitamente natural, não uma ruptura. E acredito que esse é um aspecto natural de todo período que você atravessa. As pessoas que nascem com a tecnologia se ajustam mais facilmente.

Ouço muito uma pergunta, "isso não significa que os jovens de hoje não têm problemas com o excesso de informação e com o vício digital?". E eu sempre contraponho que encontro muitos jovens que se sentem conectados com o livro, que agora é parte do currículo de um monte de universidades. Porque nossa atenção só vai até uma certa capacidade de expansão, pela natureza do cérebro. Isso significa que, em algum nível, todos estamos tendo de nos ajustar a essa nova inundação de informação. É uma inundação muito rica, com grande potencial, mas também um desafio.

Você esteve no último festival South by Southwest, que priorizou essa corrida para lidar com o excesso de informação digital.
Sim.

Neste ano, além do excesso de informação, o SXSW deve focar também realidade aumentada ["augmented reality"] e inteligência expandida, esse tipo de discussão. Como você vê essa questão, da tecnologia tornando nossas mentes e nossas realidades maiores e sem limites?
Acredito que estamos no caminho de um sentido expandido de realidade, de uma conexão expandida com a realidade, graças às nossas ferramentas. Falo de uma dessas visões no livro, em que as paredes dos prédios serão cabeadas e a capacidade de conexão com a informação estará ao nosso redor _e portanto será como se parte de nossas mentes estivesse lá fora, no mundo. Teremos uma espécie de consciência expandida, o que vejo como uma possibilidade maravilhosa. Acredito que chegaremos lá mais efetivamente se nos mantivermos com os pés no chão.

Lembre-se que também trazemos muito poder e potencial à equação. As máquinas são extraordinárias e vão nos ajudar, mas muitas vezes não levamos em conta que a mente humana é o aparelho mais complexo e poderoso criado no Universo, de que temos notícia. E somos tão importantes para a equação quanto qualquer computador. Daí essa ideia de equilíbrio entre nossa vidas digitais e não digitais ser tão crucial para mim. Porque queremos manter nossas mentes tão arraigadas na realidade e trazer nossas próprias conclusões e conexões à mesa, para que a realidade expandida seja tão rica quanto possível.

Ao mesmo tempo, você está agora mergulhado na tecnologia, com a Bluefin Labs.
Vou trabalhar nesse projeto ao longo do próximo ano. É uma startup de tecnologia, que saiu do MIT, e criou novas maneiras de identificar padrões e extrair significados da conversação de mídia social, especialmente do Twitter. Vou aplicar a tecnologia na campanha presidencial americana. Será uma nova maneira de ler o público. O livro tem uma série de mensagens, e uma delas é sobre o potencial criativo do digital. Vejo esse projeto como uma tentativa de ir mais fundo, como escrevo no livro, de levar a tecnologia a lugares mais profundos.

Publicado em: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1046403-livro-explora-reacao-as-novas-tecnologias.shtml

Vivo Internet Móvel

Campanha da Vivo mostra uma tendência da nossa sociedade de valorizar as experiências virtuais em detrimento das reais.

HAL voltou. Ele é bonzinho (por enquanto)


HAL é personagem de ficção científica. Criado em um livro de Arthur C. Clarke e adaptado para o cinema por Stanley Kubrick em 2001 - uma odisseia no espaço, o computador de Heurística ALgorítmica (daí o nome) era um sistema de inteligência artificial em uma espaçonave. Distribuído por boa parte dos equipamentos, ele não tinha uma "cara". Sua interação com os tripulantes se dava através de uma câmara e uma voz suave e ponderada. Tudo ia bem até que um conjunto de informações contraditórias deixou a máquina sem saber o que fazer. Para resolver o conflito sua lógica fria chegou à conclusão que o melhor era matar todos a bordo.

O fantasma de uma inteligência superior desprovida de moral ou escrúpulos é antigo. Mas nos últimos tempos ele deixou o reino sobrenatural para habitar o tecnológico. Chame-o de Viki em "Eu, Robô", de Mother em "Alien" ou de Auto em "Wall-E", o Cérebro Eletrônico é cada vez mais real, mesmo que seja difícil materializá-lo. Há 35 anos HAL assombrava a imaginação do cinema com sua capacidade de falar, reconhecer voz, identificar faces, computar linguagem natural, jogar xadrez, interpretar emoções, raciocinar e apreciar arte. Desses talentos, só os dois últimos ainda não se transformaram em realidade.

Travestido de Siri, Watson ou Google Now, HAL está de volta e sua espaçonave é a Terra. Ele não é mais um computador que pode ser desligado, mas uma rede de servidores distribuídos pelo mundo, resiliente e descentralizada como a própria Internet.

Tecnologias nascem grandes, vão diminuindo até se tornarem invisíveis. À medida que aumentam as capacidades da conexão sem fio, do reconhecimento de voz, da computação em nuvem e dos dispositivos móveis, a ideia de assistentes virtuais torna-se cada vez mais prática, ajudando seus usuários confusos e sobrecarregados face à complexidade da tecnologia a saber o que fazer e como decidir.

Apesar de pouco popular no Brasil por depender de aparelhos ainda sofisticados e não falar português, a tecnologia por trás desses serviços é espantosa. Sua maior vantagem está em uma interpretação diferente do reconhecimento de voz. Enquanto os sistemas tradicionais trabalhavam com estruturas sintáticas, os novos agem como um estrangeiro que não fala bem a língua, identificando determinadas palavras e, através delas, deduzindo seu contexto.

Identificado o desejo de seu amo, o assistente busca a informação desejada em bases de dados espalhadas pela rede, bastando para isso o acesso a suas APIs. A informação é analisada por servidores remotos, que transcrevem a pergunta, buscam seu significado e vão atrás da resposta que pareça mais provável. Sua "intuição" é baseada nas relações que os conceitos descobertos estabelecem com o contexto enfrentado. A resposta é convertida para voz, que sugere a ação mais provável. Os fãs do gênero talvez se lembrem desta cena do filme "O Exterminador do Futuro". É mais ou menos o espírito, só que politicamente correto.

Para se dar uma ideia do tamanho e utilidade do projeto basta fazer uma busca simples na rede. No fechamento desta coluna, a busca por "chocolate" resultava em aproximadamente um bilhão e cem milhões de respostas no Google, 387 milhões no Yahoo e 113 milhões no Bing. Cabe a quem pesquise identificar e selecionar a melhor de acordo com seu contexto - e não reclamar. Para as máquinas, pouco importa quem pesquisa, onde pesquisa, como pesquisa: as respostas são uniformes. Encarregado da mesma tarefa, um assistente não traria milhões de respostas, mas pouquíssimas opções. Como um corretor ortográfico ao sugerir palavras quando identifica um erro.

Esses serviços não são mais mecanismos de busca, mas de ação. Em vez de trazer listas de links eles conversam, decidem e agem. Dos três maiores projetos em andamento hoje, Siri é o mais abrangente. Sua tecnologia é tão impressionante que foi adquirida pela Apple por cerca de 200 milhões de dólares para se tornar exclusividade em seus novos aparelhos. Antes que o empreendedor em você se anime, vale dizer que a empresa comprada não surgiu em uma garagem. Ela é fruto do maior projeto em Inteligência Artificial dos Estados Unidos: uma iniciativa militar que buscava construir um assistente virtual capaz de aprender e raciocinar, em busca de uma única resposta a partir de um cenário complexo de informação.

O projeto foi pedido para a SRI, um instituto de pesquisa independente derivado da Universidade de Stanford, responsável por tecnologias como a impressora a jato de tinta e monitores de cristal líquido. Seu orçamento era colossal: cerca de 150 milhões de dólares em 2003, o suficiente para reunir centenas de especialistas de alto nível em uma iniciativa inimaginável para laboratórios corporativos: ensinar computadores a aprender em ambientes abertos, baseados apenas na observação de comportamentos.

O protótipo desenvolvido era capaz de organizar e priorizar informações, criar documentos e mediar comunicações com pessoas. Ao participar de uma reunião, gerava a ata, determinava e acompanhava tarefas, detectava os papéis de cada participante, alocava e administrava tempo e recursos.

Em 2008, quando a pesquisa se encerrou, a SRI liberou a tecnologia. De lá surgiu uma startup chamada Siri, e o resto é conhecido. Se hoje esse serviço parece um acessório dos novos iPhones, iPads e iPods, perfumaria para quem não o utiliza, é bem possível que chegue o dia em que os tão amados gadgets eletrônicos se tornem meros acessórios para a tecnologia. Desde sua compra, advogados e políticas corporativas vem atrasando sua expansão. É preciso negociar com cada base de dados e localizar o serviço para os quase cem países que comercializam legalmente o iPhone. Mas não há dúvida que ele logo se tornará bem popular.

Outra versão dessa tecnologia é o Google Now. Não tem os recursos da Siri, mas aprende rápido. E tem uma vantagem imbatível: a memória. O histórico de uso da Internet traz mais informações a respeito de seus usuários do que aparenta. Quando interligadas, as extensas bases de dados e sistemas de recomendação podem identificar seus usuários e saber qual o melhor dia e hora para pedir uma pizza, telefonar para a mãe ou fazer ginástica. Um pesquisador da Universidade Carnegie-Mellon descobriu que a simples combinação de três dados aparentemente inocentes como gênero, CEP e data de nascimento podem identificar cerca de 87% da população dos Estados Unidos. Não é preciso ser fã de ficção científica para saber do que o Google, encarregado de e-mail, agenda, localização, busca e bookmarks é capaz.

Um terceiro participante dessa corrida para a construção do assistente é a IBM. Seu supercomputador Watson, que conquistou o mundo em 2011 ao vencer um programa de perguntas de auditório, está sendo adaptado para ajudar em diagnósticos médicos, consultando grandes volumes de informação desorganizada na forma de anotações, entrevistas, artigos acadêmicos e registros orais e gerando opções de diagnóstico a partir de conversas com o paciente e consulta a exames. E aprendendo com eles.

Esses serviços mostram o rascunho de um mundo povoado por assistentes de inteligência artificial a se ocupar das tarefas comuns ou tediosas. Sua ideia, como a do HAL, não é substituir o homem, mas torná-lo mais eficiente naquilo que já faz. Tecnologias de reconhecimento de emoções poderão ser capazes de surpreender seus usuários estressados ou deprimidos. Assistentes burocráticos podem eliminar muitas funções de balcão e secretaria. Não demorará para surgirem aplicativos conselheiros para a vida afetiva, mudando o sentido daquilo que conhecemos hoje por auto-ajuda para "ajuda automática".

Essa dependência da tecnologia, naturalmente, assusta. Ela pode facilitar o acesso a algoritmos que explorem nossas fraquezas para realizar ações que nem o mais mesquinho dos publicitários imaginaria. Mas vale considerar que aos olhos dos antigos as novas gerações sempre estarão perdidas por serem frágeis demais, mesmo que sejam capazes de feitos inimagináveis para os que os precederam.

Até a hora em que, por uma falha ou conclusão do sistema, tenhamos nos tornado empecilhos.

Publicado em: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/luliradfahrer/1255073-hal-voltou-ele-e-bonzinho-por-enquanto.shtml

Cultura da Convergência

Henry Jenkins investiga o alvoroço em torno das novas mídias e expõe as importantes transformações culturais que ocorrem à medida que esses meios convergem. Ele nos introduz aos fãs de Harry Potter, que estão escrevendo suas próprias histórias, enquanto os executivos se debatem para controlar a franquia. Ele nos mostra como o fenômeno Matrix levou a narrativa a novos patamares, criando um universo que junta partes da história entre filmes, quadrinhos, games, websites e animações.

Título: Cultura da Convergência
Autor: Henry Jenkins
Editora: Aleph
Valor: R$69,00

Prédios inteligentes

Reportagem exibida pelo Fantástico, em 1992, sobre edifícios inteligentes.

A Cultura da Participação

Ao colocar milhões de pessoas conectadas, produzindo, compartilhando e consumindo informações, as novas tecnologias e as redes sociais na internet criaram um revolucionário recurso, o "excedente cognitivo". É dessa forma que o guru da internet Clay Shirky denomina a soma do tempo, energia e talento livres que, usados colaborativamente, permite que indivíduos antes isolados se unam para grandes realizações. Algumas, como a Wikipédia, já estão disponíveis, e toda sociedade delas se beneficia, mas muitas outras ainda virão. Com a experiência de quem trabalha na mídia colaborativa desde o início da web, Shirky explica como participar ativamente da criação de novas ferramentas digitais. A cultura da participação mostra os meios que temos hoje para fazer a diferença e melhorar o mundo.



Título: A cultura da participação - criatividade e generosidade no mundo conectado
Autor: Clay Shirky
Editora: Zahar
Valor: R$44,90

Celulares em sala de aula

Reportagem do Fantástico mostra o crescente uso de celulares e smartphones dentro de sala de aula.

Tecnologia e o futuro do policiamento


Graças à tecnologia, a polícia tem um futuro brilhante - e não apenas porque pode pesquisar sobre suspeitos no Google. Duas outras tendências menos visíveis estão se desenvolvendo para tornar seu trabalho mais fácil e mais efetivo, mas despertam questões complicadas sobre privacidade e liberdades civis.

Primeiro, o policiamento - como todas as demais atividades - está sendo reimaginado na era das montanhas de dados, sob a expectativa de que análise mais ampla e profunda sobre passados crimes, combinada a algoritmos sofisticados, possa ajudar a prever futuros delitos. Trata-se de uma prática conhecida como "policiamento preditivo" e, ainda que exista há apenas alguns anos, muitos especialistas a veem como uma revolução na forma pela qual o trabalho policial é realizado.

Um exemplo é o departamento de polícia de Los Angeles - o notório LAPD, bem conhecido via filmes de Hollywood -, que está usando um software chamado PredPol. O software começa pela análise de anos de estatísticas criminais disponíveis, e depois divide o mapa de patrulha em zonas (de cerca de 45 metros quadrados) e calcula a distribuição e frequência de crimes em cada uma delas. Por fim, informa aos policiais sobre as probabilidades de local e horário de crimes, o que permite que eles policiem de maneira mais intensa as áreas sob ameaça.

A atraente ideia que embasa o policiamento preditivo é a de que é muito melhor prevenir um crime antes que aconteça do que chegar depois e investigá-lo. Assim, mesmo que os policiais em patrulha não apanhem o bandido em flagrante, sua presença no lugar certo e na hora certa pode exercer efeito dissuasório.

A lógica parece sólida. Em Los Angeles, cinco divisões do LAPD que utilizam o software para patrulhar áreas habitadas por cerca de 1,3 milhão de pessoas viram um declínio de 13% na criminalidade. A cidade de Santa Cruz, também usuária do PredPol, viu queda de 30% no número de furtos. Estatísticas positivas semelhantes podem ser obtidas junto a departamentos policiais de todo o país, e os oficiais que comandam o processo em Los Angeles têm viajado a outros municípios para divulgar os méritos do sistema.

Se essa "previsão" parece familiar, é porque seus métodos foram inspirados pelas companhias de Internet. Em artigo para a revista "Police Chief", em 2009, um importante comandante da polícia de Los Angeles elogiou a capacidade da Amazon de entender "os grupos únicos em sua base de consumidores, e caracterizar seus padrões de comportamento", o que permite que a empresa "não apenas antecipe mas também promova ou direcione o comportamento futuro". Assim, da mesma forma que os algoritmos da Amazon tornam possível prever que livros alguém comprará no futuro, algoritmos semelhantes poderiam dizer à polícia com que frequência --e em que locais e horários-- certos crimes podem ocorrer.

Perceba que não temos como examinar os algoritmos da Amazon; eles são completamente opacos e não estão sujeitos a escrutínio externo. A Amazon alega que o sigilo permite que se mantenha competitiva, e pode ser que tenha razão. Mas a mesma lógica não pode ser aplicada ao policiamento: se ninguém puder examinar os algoritmos --o que parece provável porque o software preditivo costuma ser desenvolvido por empresas privadas -, não teremos como saber que distorções e práticas discriminatórias eles incorporam.

Por exemplos, crimes tendem a acontecer em áreas pobres e racialmente diversificadas. Será que os algoritmos --com sua suposta objetividade-- seriam capazes de causar discriminação racial ainda mais intensa no combate ao crime? Na maioria dos regimes democráticos, hoje, a polícia precisa de causa provável - alguma forma de prova, e não apenas um palpite - para deter e revistar alguém na rua. Mas armada do software de previsão, a polícia não poderia simplesmente afirmar que está agindo como os algoritmos ordenam? E, se for esse o caso, como os algoritmos poderiam depor em um tribunal?

Também há o problema dos crimes que passam sem denúncia. Embora a maioria dos homicídios seja reportada, muitos estupros e furtos residenciais não são. Mesmo na ausência desse tipo de denúncia, a polícia continua a desenvolver métodos de descobrir quando algo de estranho acontece em um bairro. O policiamento preditivo, por outro lado, poderia substituir esse conhecimento tácito por uma crença ingênua no poder abrangente das estatísticas. Se apenas dados sobre crimes que foram registrados em queixas formais forem usados para prever futuros crimes e orientar o trabalho policial, algumas formas de crime podem passar sem registro - e com isso sem qualquer repressão.

Mas existe ainda outra tendência que tornará o trabalho policial ainda mais fácil e, se combinada ao policiamento preditivo, potencialmente muito mais controverso. Empresas como o Facebook cada vez mais utilizam algoritmos e o grande volume de dados acumulados em seus servidores para prever quais dentre seus usuários poderiam cometer crimes. Eis como o sistema funciona: estudando determinadas indicações comportamentais - por exemplo, o usuário só escreve mensagens para menores de idade? A maioria de seus contatos são mulheres? Ele usa palavras como "sexo" ou "encontro" em suas conversas? - os sistemas preditivos do Facebook podem identificar certos usuários como suspeitos. Os funcionários da empresa então examinam cada caso e encaminham informações à polícia caso necessário.
A Reuters reportou recentemente sobre como os algoritmos preditivos ajudaram o Facebook a apanhar um homem de meia-idade que conversava sobre sexo com uma menina de 13 anos, com a qual estava marcando um encontro para o dia seguinte. A polícia entrou em contato com a menina, apreendeu seu computador e apanhou o sujeito. Mas nem tudo são algoritmos: o Facebook reconhece que está usando arquivos de chats reais que precederam agressões sexuais para ajudar nesse trabalho, da mesma forma que departamentos policiais usam dados não estatísticos.

É difícil questionar a aplicação desses métodos à captura de predadores sexuais que tomam crianças por alvo. Mas perceba que o Facebook pode estar realizando toda espécie de trabalho policial parecido: detectando potenciais traficantes de drogas, potenciais violadores de direitos atuais (a empresa já proíbe seus usuários de usarem links para muitos sites de troca de arquivos) e, especialmente depois dos tumultos no Reino Unido no ano passado, prevendo quem será a próxima geração de arruaceiros.

É claro que a polícia já estuda as redes sociais em busca de sinais de inquietação. Mas, ao contrário do Facebook, não vê o quadro todo --as comunicações privadas e as ações silenciosas, como os links que estão sendo clicados e as páginas que estão sendo abertas. Mas o Facebook, como a Amazon quanto aos livros, certamente sabe tudo sobre isso-- e portanto seu poder preditivo é muito superior ao da polícia.

Além disso, enquanto a polícia precisa de mandados para investigar os dados privados de um usuário, o Facebook pode estudar os dados de seus usuários sempre que assim desejar. Da perspectiva da polícia, poderia ser vantajoso transferir todo o trabalho sujo ao Facebook, porque as investigações internas da empresa não precisam passar pelos tribunais.

Com dados suficientes e os algoritmos corretos, todos nós pareceremos suspeitos. O que acontece, portanto, quando o Facebook nos denunciar à polícia --antes que tenhamos cometido qualquer crime? Será que, como personagens em um romance de Kafka, teríamos dificuldade para compreender qual foi o nosso verdadeiro crime, e passaríamos o resto da vida lutando para reabilitar nossas reputações? E se os algoritmos estiverem errados?

As recompensas do policiamento preditivo podem ser reais, mas seus perigos também o são. A polícia precisa sujeitar seus algoritmos a escrutínio externo e enfrentar a questão das distorções implícitas que carreguem. Os sites de redes sociais precisam estabelecer padrões claros sobre as medidas de autopoliciamento preditivo que adotarão, e sobre as dimensões de suas investigações sobre os usuários.

Embora o Facebook possa ser mais efetivo que a polícia na previsão de crimes, não deveria ser autorizado a exercer essas funções de policiamento sem que respeite as normas e regulamentos que definem o que a polícia pode e não pode fazer em uma democracia. Não podemos contornar os procedimentos legais e subverter as normas democráticas em nome da eficiência.

E se o Twitter tivesse sido inventado na década de 1980?

Timeline do Facebook

Vídeo de apresentação da Timeline (Linha do Tempo), publicado pelo Facebook em setembro de 2011.

Vertigem Digital

O que acontece quando optamos por divulgar nas redes sociais cada um dos passos que damos no dia a dia? Estamos fadados a viver uma existência compartilhada, em que centenas de pessoas podem opinar sobre nossas escolhas e acompanhar o desenvolvimento de nossas vidas? Mais uma vez, Andrew Keen, autor do polêmico O culto do amador, faz os leitores refletirem sobre a situação atual. 

Na opinião do autor, atualmente, as pessoas acreditam que suas identidades só se realizam pela internet. Escrevo nas mídias sociais, logo existo. Keen apresenta uma crítica bem-fundamentada sobre a Web 3.0.

Título: Vertigem Digital: Por que as redes sociais estão nos dividindo, diminuindo e desorientando
Autor: Andrew Keen
Editora: Jorge Zahar
Valor: R$44,90

E se o Facebook tivesse sido inventado na década de 1990?

O fim do smartphone


Por Luli Radfahrer, professor-doutor de Comunicação Digital da ECA

Há duas décadas um celular era considerado excentricidade nerd. Hoje quem não tem um deles é exótico. Misto de computador de bolso e máquina de entretenimento, o smartphone é de longe o dispositivo eletrônico mais popular, pouco importa a renda de seu usuário.

Na África, onde alguns modelos são vendidos por cerca de US$ 10, há países com mais celulares do que privadas. Para aproveitar o canal de comunicação, governos e ONGs os utilizam para transmitir informações diversas, como medidas para a prevenção contra a Aids e malária, previsão do tempo, técnicas de plantio e preços de mercado para a agricultura. Por questões de segurança, há uma grande quantidade de transações financeiras feitas através deles, para evitar o transporte de dinheiro.

Mesmo assim a farra do smartphone dá sinais de estar chegando a seu final. O crescimento no mercado de aparelhos de ponta deve diminuir para 10% a 15% nos próximos dois anos, contra 50% a 100% do passado.

Na China, que deve se tornar o maior mercado de smartphones do mundo, com 170 milhões de unidades vendidas, novas marcas como Xiaomi têm especificações parecidas com as do Galaxy S3, da Samsung, e do iPhone 5, da Apple, vendidos à metade do preço.

O problema com os smartphones é que eles são, como os PCs de antigamente, genéricos demais. À medida que o software e o uso se especializam, o aparelho como o conhecemos não consegue mais dar conta das demandas. Por mais que a ficção científica continue a mostrá-los daqui a um século, dificilmente se carregará um retângulo de vidro no bolso nos próximos anos.

Poucos fabricantes parecem se dar conta dessa estagnação. Restrito a uma tela e um teclado, o usuário de hoje ainda se comporta como um zumbi, andando cego, curvado sobre sua telinha brilhante. Os modelos mais novos prometem pouco mais do que telas maiores, teclados mais eficientes, conexão e processamento mais rápido e baterias mais longevas. A falta de criatividade é tamanha que um dos maiores sucessos nos lançamentos deste ano foi um aparelho à prova d'água. Não há mais o fascínio provocado pelo StarTAC, o N95 ou o primeiro iPhone.

O resultado é um tédio, que leva a uma deterioração na demanda. Para que comprar todo ano um telefone que faz o mesmo milhão de coisas que meu tablet faz?

Novos protótipos tentam reavivar o mercado antes que seja tarde. Apple e Samsung apostam em versões do telefone no relógio de pulso, incorporando ao telefone pedômetros e monitores de atividade e saúde. Microsoft e Google apostam em óculos com informações contextuais e camadas de realidade aumentada. Uma coisa é certa: a caixinha multifuncional está com os dias contados.

A tecnologia digital está finalmente chegando ao estágio em que aprende com seu usuário, em vez de demandar dele um aprendizado. Assistentes virtuais como Siri e Google Now logo eliminarão a necessidade de texto nos celulares, facilitando seu uso em óculos, brincos, tiaras e braceletes. É o primeiro passo na direção de seu desaparecimento, sua transformação em serviços como o são as operadoras de telefonia.

Um dia tais itens estarão por toda parte, realizando praticamente qualquer tarefa cotidiana. Antes que esse dia chegue talvez seja bom considerar a queixa que há 160 anos Henry David Thoreau fazia em seu livro "Walden", lamentando que as pessoas tinham se tornado ferramentas de suas ferramentas.

Publicado em: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/luliradfahrer/1251170-o-fim-do-smartphone.shtml

Filmagem de 1922 mostra o que provavelmente foi o primeiro telefone celular do mundo

O filme intitulado “Eve´s Wireless” foi encontrado nos arquivos de cinema britânico e pegou a todos de surpresa. A cena, gravada no estilo do cinema mudo e com duração de pouco menos de 90 segundos, mostra duas mulheres utilizando o que pode ter sido o primeiro telefone móvel da história.



Fonte:
Tecmundo

A casa do século 21

Em 1967, o apresentador Walter Cronkite tinha um programa no qual trazia previsões sobre como seria a vida no século 21. No episódio de 12 de março daquele ano, Cronkite mostrava como seria a casa do futuro.

Segundo ele, a casa do futuro teria equipamentos com telas nas quais você leria notícias (e as imprimiria instantaneamente, se quisesse), acompanharia o clima, suas ações no mercado ou faria videoconferêcias. Curiosamente, cada máquina realizaria apenas uma função. O conceito de multitarefa não fazia parte nem da ficção científica. Confira:




Cronkite explicou que todas essas facilidades possibilitariam ao homem moderno trabalhar de casa, ganhando muito tempo livre. E esse tempo livre seria gasto assistindo televisão 3D e ouvindo música em som estéreo. Tudo numa confortável sala com cortinas que controlariam a entrada de luz:



Na cozinha, a comida seria feita automaticamente. Os ingredientes embalados sairiam da geladeira e iriam direto para o forno de microondas onde "seriam cozinhados em segundos". Os pratos seriam moldados no momento em que a pessoa fosse comer. Quando você terminasse a refeição, não haveria louça suja. Os pratos seriam reciclados e os resíduos destruídos. Veja:



O canal do YouTube de Matt Novak, o Paleofuture, costuma publicar vários vídeos "futuristas" ou de previsões futurísticas de tempos atrás.

Cibercultura no Brasil


Entrevista com o professor André Lemos sobre a cibercultura no Brasil
Por Fabiana Paiva, da Magnet

Pioneiro nos estudos em cibercultura no Brasil, André Lemos é referência no assunto. O professor doutor da Faculdade de Comunicação da UFBA aterrissou em São Paulo semana passada, convidado a abrir o simpósio Cibercultura 2.0. O evento, um dos poucos mas cada vez mais freqüentes na área, aconteceu no Senac de Comunicação e reuniu diversos estudiosos e profissionais para discutir o complexo campo cultural que se formou com as novas tecnologias.

Aproveitando sua presença em terras paulistanas e cibernéticas, André Lemos concedeu entrevista virtual à Magnet para falar um pouco mais sobre a realidade da cibercultura no país, como é o mercado de trabalho nacional e o campo de estudos para quem quer seguir essa carreira. André também deu um panorama dos cursos disponíveis atualmente e falou sobre como andam seus próximos trabalhos e as tendências da cibercultura para os próximos anos.

Como você definiria o conceito de cibercultura dentro do que conhecemos por sociedade contemporânea? Podemos dizer que a cibercultura é um conceito estritamente ligado às novas tecnologias e suas influências no modo de vida da sociedade atual, ou representa uma estrutura de valores culturais mais ampla? E a quem ela influencia? 

André Lemos -A cibercultura nada mais é do que a cultura contemporânea em sua interface com as novas tecnologias de comunicação e informação, ela está ligada às diversas influências que essas tecnologias exercem sobre as formas de sociabilidade contemporâneas, influenciando o trabalho a educação, o lazer, o comércio, etc. Todas as áreas da cultura contemporânea estão sendo reconfiguradas com a emergência da cibercultura.

Em agosto deste ano (numa outra entrevista) você afirmou que o Brasil tem facilidade de atração pelas novas tecnologias. Qual seria a razão? E considerando que o país ainda se encontra na "periferia" desse movimento, apesar da crescente movimentação dos hackers e dos grupos ciberativistas contra a exclusão digital, o que falta na sua opinião para o Brasil entrar de vez na cibercultura? 

André Lemos -A sociedade brasileira passou da cultura oral diretamente para a cultura audiovisual e isso interfere na forma como nos relacionamos com os novos produtos midiáticos. O Brasil enfrenta o problema, mundial, de inserção de camadas excluídas da população nas novas tecnologias. Para entrar de vez, precisamos de políticas públicas que garantam o acesso à totalidade da população, o desenvolvimento de softwares e um maior engajamento político através dessas tecnologias.

De 1991 (quando iniciou suas pesquisas) para cá, como você vê o desenvolvimento dos estudos e discussões sobre cibercultura no Brasil? E dentro dessa perspectiva, como você avalia a distribuição da produção científica nacional sobre cibercultura, além dos eventos como o Cibercultura 2.0, entre centros como Rio de Janeiro, Bahia, São Paulo e a Região Sul do país? 

André Lemos -Os estudos em cibercultura ainda engatinham no Brasil, mas já existem grupos de pesquisa de ponta em várias áreas e em vários Estados do país. Temos ainda trabalhos interessantes em Recife, Porto Alegre.

Em quais campos da vida o profissional especializado em cibercultura poderá aplicar seu conhecimento? Onde ele atuaria dentro do mercado de trabalho nacional? 

André Lemos -Há várias áreas, desde a estritamente acadêmica até produção multimídia, jornalismo online, webdesigner, gestor de informação, além das ligadas à informática como programadores, analistas de sistemas, entre outras.

Você coordena o grupo de pesquisa em cibercultura, o Ciberpesquisa, na Faculdade de Comunicação da UFBA. Como você avalia os espaços acadêmicos em cibercultura no Brasil, em termos de quantidade, distribuição e qualidade curricular, por exemplo? Você indicaria alguns centros ou curso de cibercultura (nacionais ou internacionais) como referência? Quais? 

André Lemos -Não há cursos de cibercultura no Brasil, mas cursos que abordam um ou outro aspecto da cibercultura. Temos cursos em hipermídia, jornalismo eletrônico, webdesign, entre outros. O Ciberpesquisa está ligado à pesquisa em cibercultura, que é uma linha do programa de pós-graduação em comunicação da Facom/UFBa. Centros de referência no Brasil são: Ciberpesquisa (UFBa), Virtus (UFPe), Ciberideia (UFRJ). Há, nos programas de pós-graduação em comunicação do Brasil, linhas de pesquisa sobre cibercultura.

Quais foram os temas que o inspiraram ao longo de seu trabalho em cibercultura? Atualmente, quais são seus trabalhos na área? 

André Lemos -Trabalho com esse tema desde 1991, quando comecei meu doutoramento na França. Tenho tratado de algumas questões importantes para conhecer a cibercultura. Fiz trabalhos e pesquisas sobre sociabilidade online, hipertextos, cyborgs, hackers... Agora estou interessado na relação entre o espaço urbano e a cibercultura. Estou editando um livro sobre esse tema, Cibercidades, que deve sair ainda esse ano ou no começo de 2004.

Por fim, o que você apontaria como tendência para o futuro da cibercultura no Brasil, comparativamente às tendências no restante do globo? E qual sua avaliação sobre o surgimento de espaços de discussão como o Cibercultura 2.0? 

André Lemos -Espaços de discussão são sempre bem-vindos. Acho que o grande tema atual é o wireless, o wi-fi. A conexão móvel vai alterar práticas e mudar nossa percepção do ciberespaço. Cada vez mais estaremos imersos em um nomadismo que articula o espaço de fluxo com o espaço de lugar.

Publicado em: http://informatica.terra.com.br/interna/0,,OI218911-EI553,00.html

A hora da geração digital

'A hora da geração digital' é uma investigação do universo digital da tecnologia do século XXI. O autor Don Tapscott entrevistou cerca de 10 mil jovens numa pesquisa que custou cerca de US$ 4 milhões e, no lugar de um bando de gente grudada em telas com pouca capacidade de concentração e sem habilidades sociais, ele descobriu uma comunidade que desenvolveu novas formas de pensar, interagir, trabalhar e socializar. Com base em suas descobertas, o autor revela neste livro como o cérebro da 'Geração Internet' processa informações e como os jovens e a internet estão transformando a democracia.

Trecho do livro: "O impacto das redes sociais nos hábitos de consumo da Geração Internet é imenso e já perceptível. O poder da internet para descentralizar o conhecimento acarretou um profundo deslocamento de poder dos produtores para os consumidores. Os jovens da Geração Internet têm mais acesso a informações sobre produtos e serviços e podem discernir o valor real com mais facilidade do que as gerações anteriores. Mais do que nunca, as empresas precisam, para competir no mercado, de produtos realmente diferenciados, de um serviço melhor ou de um custo mais baixo, pois as deficiências de valor não podem ser escondidas com tanta facilidade. O valor real é evidenciado como nunca. A influência também está sendo descentralizada à medida que a Geração Internet se manifesta a partir das trincheiras modernas, também conhecidas como blogs. Blogs e outras mídias geradas por consumidores estão alterando as fontes de poder e de autoridade em nossa sociedade. Algumas dessas fontes têm uma capacidade surpreendente de influência, afastando a balança de poder de fontes mais tradicionais e reconhecidas. As empresas inteligentes entendem esse deslocamento de poder e o adotam."

Título: A hora da geração digital: como os jovens que cresceram usando a internet estão mudando tudo, das empresas aos governos
Autor: Don Tapscott
Editora: Agir
Valor: R$79,90

A próxima web

Analistas de si mesmos


Por Diogo Antonio Rodriguez

Cada vez mais pessoas partem para a filosofia do grupo Quantified Self, que usa a tecnologia para medir dados e criar relatórios da própria vida

Enquanto algumas pessoas se assustam quando descobrem a quantidade de dados coletados por sites e eletrônicos, outras parecem não se incomodar. Para elas, quanto mais informações puderem fornecer e compartilhar, melhor.

É o caso dos chamados “self-trackers”, pessoas que coletam dados sobre suas vidas diariamente. De aspectos corriqueiros a estatísticas personalizadas sobre o sono, alimentação, finanças e até genoma, os praticantes dessa corrente podem escolher entre as inúmeras variáveis que compõem a equação da vida. Mais: tentam interpretá-las para procurar desvios em padrões para prever doenças ou resolver algo que seja problemático – como a insônia.

Essa vertente filosófica contemporânea já tem sua escola de seguidores: o grupo Quantified Self. Fundado em 2007 em São Francisco, nos Estados Unidos, pelo jornalista Gary Wolf, o grupo tem ramificações em 82 cidades pelo mundo. Além do país, há grupos na Europa, Ásia e América do Sul, incluindo o Brasil.

Nos encontros, cada participante apresenta sua palestra sobre como descobriu uma maneira nova de acompanhar algum aspecto de sua vida e os métodos são compartilhados.

Mais do que juntar estatísticas, o que guia o Quantified Self é o “insight”: perceber algo sobre si mesmo através dos dados. Por isso, é importante a maneira de visualizar a informação: “A questão é sempre diminuir essa parte de análise, que é muito complexa e exige tempo”, diz o desenvolvedor Fabio Santos, responsável por organizar a filial brasileira do grupo.

Stephen Wolfram é o padrinho desse hábito. Fundador e CEO da Wolfram Research e criador do site de pesquisas Wolfram Alpha, o cientista mantém registros de vários de seus hábitos desde 1989. Um post em seu blog no ano passado analisou os dados que coleta ao longo do tempo. Ele descobriu que manda, em média, 250 e-mails por dia. Desde 2002, digitou mais de 100 milhões de vezes e fica quatro horas por dia ao telefone.

O designer Nicholas Feltron segue os mesmos princípios, mas tem um jeito diferente de compartilhar seus dados. Todos os anos ele divulga o Feltron Report, um relatório em que compila suas estatísticas. Entre 2010 e 2011, por exemplo, foram mais de duas mil horas de trabalho (média de 46 por semana) e 26.015 músicas ouvidas. Para ajudar outros aficionados por estatísticas, ele criou o app Daytum, que permite registrar e fazer gráficos do que se desejar.

As empresas de tecnologia já perceberam essa tendência e têm lançado produtos que se encarregam de fazer a parte mais trabalhosa do self-tracking (automonitoramento) e apresentar as informações de uma maneira simples. Segundo a lista do Quantified Self, já são mais de 200 ferramentas disponíveis no mercado para quem quer coletar dados.

A variedade é grande: há de aparelhos a apps, passando por redes sociais. Na última edição feira de tecnologia Consumer Electronics Show (CES), a tendência apareceu com força e novas ferramentas foram apresentadas. O HapiFork, por exemplo, é um garfo que mede o número de garfadas. Com o sensor iSpO2 o smartphone vira um medidor de batimentos cardíacos e da oxigenação. Para quem precisa controlar o peso, a balança Withings se comunica com um app e acompanha peso, gordura e qualidade do ar.

Baseada no Estado de Massachusetts (EUA), a empresa Healthrageous começa a levar a ideia para áreas mais tradicionais, como o dos planos de saúde. A plataforma de automonitoramento criada pela empresa incentiva os funcionários a cuidar da saúde usando recompensas ao estilo dos games.

Mas talvez o campo mais fértil seja o smartphone. Através dele é possível monitorar vários aspectos da vida com alguns apps simples (veja abaixo). Com tantas informações disponíveis, o self-tracking está criando um novo tipo de paciente, mais participativo e que exige explicações detalhadas de seu médico. Fabio Santos explica que embora o Quantified Self incentive o autoconhecimento, o grupo não concorda com a automedicação e orienta participantes a procurar médicos.

Publicado em: http://blogs.estadao.com.br/link/analistas-de-si-mesmos/

Hackers, em 1993

Matéria exibida pelo "Fantástico", em 1993, sobre hackers:

"O ambiente digital está alterando nosso cérebro de forma inédita"


Para a neurocientista britânica Susan Greenfield, o admirável mundo novo da internet e das redes sociais não é tão admirável assim. Videogames e redes sociais estão, na visão dela, criando uma nova geração – a de "nativos digitais" – que vai passar a maior parte de sua vida online. E isso não é bom, segundo ela. "As crianças que estão crescendo agora nesse ambiente do ciberespaço, não vão aprender como olhar alguém nos olhos, não vão aprender a interpretar tons de voz ou a linguagem corporal", disse em entrevista ao site de VEJA, concedida em sua passagem pelo Brasil para falar na Conferência Fronteiras do Pensamento, em São Paulo e Porto Alegre.

Susan, de 52 anos, autora de livros como The Private Life of the Brain (A Vida Privada do Cérebro, sem edição no Brasil), afirma que há um grande risco de as pessoas passarem a viver suas vidas exclusivamente em ambientes virtuais. "Um estudo americano, de 2010, mostrou que mais da metade dos adolescentes entre 13 e 17 anos gastava mais de 30 horas por semana na internet. São quatro ou cinco horas por dia não andando na praia, não dando um abraço em alguém, não sentindo o sol no rosto, não subindo em uma árvore, não fazendo todas as coisas que as crianças costumavam fazer."

Outra comparação feita pela neurocientista, que também é professora de Farmacologia na Universidade de Oxford, é entre as redes sociais e a indústria do cigarro. De acordo com ela, assim como as produtoras de tabaco negavam o poder viciante do cigarro, o mesmo ocorre hoje com as companhias que lucram com o uso das redes sociais e videogames. "É preciso admitir que existe um problema", diz ela, citando estudos que relacionam a utilização intensiva de redes sociais com a liberação de substâncias estimulantes no cérebro.

Apesar de enxergar com pessimismo um mundo em que estejamos conectados a maior parte do tempo, Susan diz que não adianta proibir crianças e adolescentes de usar videogames e redes sociais. "É preciso oferecer um mundo tridimensional mais interessante para eles."

A  internet afeta o cérebro? Todos estão interessados em saber como as tecnologias digitais, especialmente a internet, afetam o cérebro. A primeira coisa a saber é que viver afeta o cérebro. O cérebro muda a todo instante de nossas vidas. Tudo que é feito durante o dia vai afetar o cérebro. A razão disso é que o cérebro humano se desenvolveu para se adaptar ao ambiente, não importando qual fosse esse ambiente. É interessante notar que agora o ambiente é muito diferente, de maneira sem precedentes.

Como a imersão num ambiente virtual pode afetar o cérebro? Há várias perguntas diferentes a serem respondidas. Eu acho que há três grupos abrangentes. O primeiro é o impacto das redes sociais na identidade e nos relacionamentos. O segundo é o impacto dos videogames na atenção, agressividade e dependência. E o terceiro é sobre o impacto dos programas de busca no modo como diferenciamos informação de conhecimento, como aprendemos de verdade. É claro que há muitos estudos que ainda precisam ser feitos, mas certamente há cada vez mais evidências sobre aspectos positivos e negativos. Por exemplo, já foi demonstrado que jogar videogames pode ser similar a fazer um teste de QI. Pode ser que o aumento de QI visto em alguns testes aconteça graças à repetição de uma certa habilidade ao jogar videogames. Agora, só porque vemos um aumento de QI em quem joga videogames não quer dizer que haja um aumento de criatividade ou capacidade de escrita. Também se sabe, por alguns estudos, e por exames de imagem, que os videogames aumentam áreas do cérebro que liberam dopamina. Também sabemos que, em casos extremos, nos quais as pessoas gastam até 10 horas por dia na frente da tela, existe uma forte correlação com anormalidades em exames cerebrais. Como costumamos dizer, uma andorinha só não faz verão. Então é importante fazer mais estudos. Isto não é definitivo, em se tratando de ciência nada é definitivo, por isso é importante começar a fazer pesquisa básica porque, até agora, está claro que coisas boas e coisas ruins estão acontecendo de um modo que não haviam acontecido em gerações passadas.

Existe um limite de tempo seguro para navegar na internet? É claro que muitos pais já me perguntaram: 'com que frequência meus filhos devem usar a internet? Até quando é seguro?' O que acontece na Inglaterra, acho que aqui também, é que alguns pais falam para os filhos 'façam uma pausa a cada 10 minutos'. Mas eu não conheço ninguém que no meio do jogo pensa 'está na hora da minha pausa de 10 minutos'. Minha sugestão é agradar as crianças, em vez de dizer 'você só jogar por uma ou duas horas, ou você simplesmente não pode jogar.' Não seria melhor se a criança decidisse sozinha que não quer jogar? E por que eles fariam isso? Porque o que você vai oferecer a ele é muito mais excitante, muito mais agradável, muito mais interessante, do que esse jogo. É um desafio, mas o que temos que fazer é tentar pensar em maneiras, não tentar negar a tecnologia. Nós podemos, na nossa sociedade maravilhosa, com toda essa tecnologia, com todas as oportunidades que temos, dar aos nossos filhos um mundo tridimensional interessante para viver.

Há quem associe o aumento da incidência do transtorno de déficit de atenção e da hiperatividade (TDAH)  ao uso da internet pelas crianças. Essa ligação faz sentido? Está havendo um crescimento alarmante de TDAH. Sabemos que a prescrição de drogas como ritalina, usadas para TDAH, triplicaram, quadruplicaram nos últimos 10 anos. É claro que isso é muito. A condição pode estar sendo mais diagnosticada ou pode ser que os médicos estejam prescrevendo mais os remédios. Há, porém, outro fator importante: a causa pode ser as tecnologias digitais.

Por que culpar a internet e não a TV, por exemplo? Algumas pessoas dizem que a TV é a mesma coisa que a internet. Mas já se mostrou que não é o caso. Há uma grande diferença para o que fazemos na internet, que é altamente interativa e também tende a ser mais estimulante. Nós também sabemos que, quando se joga videogame, uma substância química no cérebro relacionada com o estímulo, chamada dopamina , é liberada. O que é interessante é que, quando se toma ritalina, a dopamina também é liberada. Então, agora as pessoas estão pensando que talvez as crianças estejam viciadas em videogames. E estão medicando essas crianças porque elas teriam TDAH, e estão fazendo, embora não façam ideia, com que haja mais dopamina no cérebro. Então certamente há uma ligação entre TDAH e videogames, mas precisamos entender mais sobre os mecanismos cerebrais para entender como isso funciona.

Como a senhora acha que a geração atual será no futuro? É interessante pensar no caráter, nas aptidões da próxima geração, os cidadãos da metade do século 21. Eu acho que haverá coisas boas e coisas ruins. Imagino quetalvez eles tenham um QI maior e uma boa memória. Acho também que eles correrão menos riscos que nossa geração – isso pode ser tanto bom quanto ruim. Por um lado, ninguém quer pessoas que nunca se arriscam, que são excessivamente precavidas, mas, por outro lado, também não queremos pessoas inconsequentes. Infelizmente, também acho que essa geração terá um senso de identidade mais frágil, menos empatia, menos concentração, e podem ser mais dependentes ao viver o "aqui e agora" em vez de ter um passado, presente e futuro. Talvez eles fiquem mais presos ao presente.

Por que o senso de identidade seria menor? Até recentemente, em muitas partes do mundo, os seres humanos tinham preocupações mais imediatas, como sobreviver, se manter aquecido, não ter dor, não viver com medo e ter onde se abrigar. Essas questões eram as mais importantes quando se era um adulto. Mas agora a tecnologia, em sociedades mais privilegiadas, como o Brasil e a Grã-Bretanha, está permitindo que a população, pela primeira vez na história, viva muito mais e tenha uma vida saudável. Uma criança tem, agora, uma em três chances de viver mais de 100 anos. Então o que fazer com esse tempo? Essa é uma pergunta que não se fazia no passado porque as pessoas morriam de doenças ou estavam preocupadas com outras coisas. Mas agora é factível presumir que as pessoas não saberão o que fazer com a segunda metade de suas vidas, após seus filhos estarem criados. Se elas estiverem saudáveis, em forma, mentalmente ágeis, não poderão simplesmente jogar golfe todo dia, ou sudoku. Acho que uma das grandes questões para eles será fazer perguntas que tradicionalmente apenas adolescentes fazem: "Quem sou eu? Qual é o sentido da vida? Para onde estou indo? Qual o propósito disso tudo?" Na minha opinião, isto pode ajudar a explicar por que, de uma maneira engraçada, Facebook e Twitter são tão populares.

Por quê? As pessoas têm um senso integral de identidade. De repente elas se sentem importante porque gente ao redor do mundo está se comunicando com elas, comentando o que elas disseram. Então, este tipo de pessoa, que no passado vivia em uma comunidade local, e tinha uma identidade dentro daquela cultura, dentro daquele país, agora tem uma presença global, mas que é construída externamente. Não é real. É como em uma ocasião na qual estava em um café da manhã com Nick Clegg (vice-primeiro-ministro da Grã-Bretanha) e tinha uma mulher perto de mim tão ocupada contando a todo mundo que ela estava tendo uma café da manhã com Nick Clegg que nem conseguiu prestar atenção ao que ele estava dizendo. Ela só ficava tuítando o tempo todo: "café da manhã com Nick Clegg". Eu vi um filme com duas meninas conversando dentro de um carro e uma pergunta para a outra: "Como você se sente dentro deste carro?" Ela não responde "estou triste" ou feliz ou animada, nada disso. Ela diz: "o carro é digno de um post no Facebook."

Por que isso é preocupante? A partir disso eu infiro que as pessoas estão construindo uma identidade no ciberespaço que em boa parte é formada pela visão das outras pessoas. Existe um site chamado KLOUT. Se você entrar nesse site, ele te diz o quão importante você é, te dá um número chamado Klout Score. Klout, em inglês, significa importante. As pessoas pagam para ver qual é a sua pontuação e para aumentá-la. Eu acho interessante essa tendência de que mesmo que você sinta-se muito importante, muito conectada, você se sente insegura, tenha baixa autoestima, sinta-se constantemente inadequada. Existe um livro muito bom escrito por Sherry Turkle chamado Alone Together - Why We Expect More From Technology and Less From Each Other (algo como "Juntos sozinhos - Por que esperamos mais da tecnologia e menos de cada um de nós", lançado em janeiro, ainda sem editora no Brasil). Ela disse: "bizarramente, quanto mais conectado você está, mais você está isolado."

Hoje, entretanto, a maior parte das pessoas continua levando suas vidas normalmente, fora do ciberespaço, e apenas uma pequena parte dentro dele. Isso se inverterá no futuro? A maioria das pessoas dirá que, se tirarmos um instantâneo da sociedade hoje, um monte de pessoas está vivendo normalmente e feliz em três dimensões. Elas têm amizades saudáveis e gostam de estar no Facebook e no Twitter. Com certeza, é apenas uma minoria de pessoas que gastam até 10 horas por dia em frente do computador. Porém eu acho esse tipo de argumento problemático porque é solipsista — você está argumentando a partir do seu ponto de vista. Já falei várias vezes com jornalistas, que geralmente são de meia-idade e de classe média, e dizem que usam isso e aquilo e é fantástico. Às vezes sou criticada porque não estou no Facebook, não estou no Twitter, e mesmo assim estou comentando a respeito. Eu respondo que, mesmo se eu estivesse me divertindo muito no Facebook, isso não quer dizer que todos sejam como eu ou que vão usar do mesmo modo que eu uso, ou que vão ter o mesmo tipo de amizades que eu tenho.

O uso então é exagerado? Eu acho que precisamos olhar para as estatísticas em vez de apenas levar em conta as impressões pessoais ou os meios de comunicação. De acordo com as estatísticas, os chamados nativos digitais, gente que nasceu após 1990, apresentam níveis de uso alarmantes. Por exemplo, um estudo americano, de 2010, mostrou que mais da metade dos adolescentes entre 13 e 17 anos estavam gastando mais de 30 horas por semana na internet. O que me chama atenção não são as 30 horas, mas o que vai além disso. Isso significa que pelo menos quatro ou cinco horas por dia em frente ao computador. O problema com isso é que, não importando o quão fantásticas ou benéficas sejam as redes sociais — vamos dizer que sejam 100% maravilhosas — ainda são quatro ou cinco horas por dia não andando na praia, não dando um abraço em alguém, não sentindo o sol no rosto, não subindo em uma árvore, não fazendo todas as coisas que as crianças costumavam fazer. Acho que devemos prestar atenção a essa questão. Acho também que podemos comparar o que acontece hoje com o momento do anos 50 quando as pessoas começaram a mostrar uma relação entre o câncer e o cigarro. A indústria do tabaco foi hostil a essa descoberta, tentou negar e insistir que fumar não era viciante. E se você tem um grupo de pessoas se divertindo e outro grupo fazendo dinheiro com isso, esse é um círculo perfeito. A primeira coisa a fazer quando pensamos na relação entre os jovens e a internet é reconhecer que talvez aí exista um problema.

Não se trata de excesso de zelo? Existem outras questões também. Há uma grande diferença entre os chamados "imigrantes digitais", pessoas como eu e possivelmente pessoas como as que estão lendo essa entrevista e que tiveram uma educação convencional, cresceram lendo livros, tendo relações apropriadas, em três dimensões, e as crianças que estão crescendo agora, recebendo um comando evolucionário para se adaptar ao meio ambiente. Se esse ambiente é incessantemente o ciberespaço, elas não vão aprender como olhar alguém nos olhos, elas não vão aprender a interpretar tons de voz ou a linguagem corporal. Elas não vão aprender como é quando se toca alguém, se tem um contato físico. O que significa que, se alguém ficar cara a cara com alguém no mundo real será mais desagradável, mais agressivo, então as pessoas vão preferir se comunicar por meio das telas. Já é o caso da Grã-Bretanha, não sei como é aqui no Brasil. Escritórios se tornaram locais bastante silenciosos, porque, em vez de conversarem entre si, as pessoas preferem enviar mensagens. Outro problema que, acho eu, mostra uma tendência, é um fantástico aplicativo — é fantástico que as pessoas paguem por isso. São dois, na verdade. Um deles se chama Self Control (Auto controle). O outro se chama Freedom (Liberdade). Você paga para que eles não o deixem usar a internet obsessivamente. Eles desligam seu computador a cada 50 minutos ou a cada hora. Por que as pessoas deveriam pagar por algo que elas mesmas poderiam fazer facilmente, a menos que estejam obcecadas ou tenham se tornado dependentes? Eu posso chegar para você e dizer que tenho uma maneira brilhante de ganhar dinheiro: você me paga para eu desligar seu computador para você. Você vai me dizer que estou louca.

Publicado em: http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/o-ambiente-digital-esta-alterando-nosso-cerebro-de-forma-inedita-diz-neurologista-britanica

South Park: Facebook

A série South Park faz uma crítica quanto ao uso do Facebook:

Parte I:


Parte II:

Homo deletabilis

Neste livro, Maria Cristina Franco Ferraz faz um passeio pelas noções de memória e esquecimento, desde o século XIX até o recém iniciado século XXI. Esta abordagem se enriquece com a retomada do pensamento de dois filósofos que propuseram instigantes visadas sobre essas noções, nas últimas décadas do século XIX: Friedrich Nietzsche e Henri Bergson. Nesta obra do século XXI, revisitar essas abordagens filosóficas não equivale a buscar supostas verdades sobre o fenômeno da memória. Tem por efeito a ampliação, o fortalecimento do debate acerca da cultura somática atualmente em expansão, difundida midiaticamente e também expressa no cinema e na literatura recentes. Esse trabalho de investigação e reconfiguração histórica da percepção, da matéria e do corpo é aqui realizado com extremo rigor na utilização de conceitos filosóficos e mediante um texto que revigora o prazer da leitura em cada tema abordado. Entre estes, podemos destacar uma excelente análise que a autora faz acerca do filme "Brilho eterno de uma mente sem lembranças", que aborda de forma atualíssima e instigante a problemática da memória e do esquecimento no cenário contemporâneo.

Título: Homo deletabilis - Corpo, percepção, esquecimento do século XIX ao XXI
Autora: Maria Cristina Franco Ferraz
Editora: Garamond
Valor: R$35,00

Narcisismo no Facebook

Por Luiz Felipe Pondé
Colunista da Folha de S. Paulo
Publicado no Caderno Ilustrada – Folha de S. Paulo

Faço parte do que o jornal britânico “The Guardian” chama de “social media sceptics” (céticos em relação às mídias sociais) em um artigo dedicado a pesquisas sobre o lado “sombrio” do Facebook (22/3/2012).

Ser um “social media sceptic” significa não crer nas maravilhas das mídias sociais. Elas não mudam o mundo. Aliás, nem acredito na “história”, sou daqueles que suspeitam que a humanidade anda em círculos, somando avanços técnicos que respondem aos pavores míticos atávicos: morte, sofrimento, solidão, insegurança, fome, sexo. Fazemos o que podemos diante da opacidade do mundo e do tempo.

As mídias sociais potencializam o que no humano é repetitivo, banal e angustiante: nossa solidão e falta de afeto. Boas qualidades são raras e normalmente são tão tímidas quanto a exposição pública.

E, como dizia o poeta russo Joseph Brodsky (1940-96), falsos sentimentos são comuns nos seres humanos, e quando se tem um número grande deles juntos, a possibilidade de falsos sentimentos aflorarem cresce exponencialmente.

Em 1979, o historiador americano Christopher Lasch (1932-94) publicava seu best-seller acadêmico “A Cultura do Narcisismo”, um livro essencial para pensarmos o comportamento no final de século 20. Ali, o autor identificava o traço narcísico de nossa era: carência, adolescência tardia, incapacidade de assumir a paternidade ou maternidade, pavor do envelhecimento, enfim, uma alma ridiculamente infantil num corpo de adulto.

Não estou aqui a menosprezar os medos humanos. Pelo contrário, o medo é meu irmão gêmeo. Estou a dizer que a cultura do narcisismo se fez hegemônica gerando personalidades que buscam o tempo todo ser amadas, reconhecidas, e que, portanto, são incapazes de ver o “outro”, apenas exigindo do mundo um amor incondicional.

Segundo a pesquisa da Universidade de Western Illinois (EUA), discutida pelo periódico britânico, “um senso de merecimento de respeito, desejo de manipulação e de tirar vantagens dos outros” marca esses bebês grandes do mundo contemporâneo, que assumem que seus vômitos são significativos o bastante para serem postados no “Face”.

A pesquisa envolveu 294 estudantes da universidade em questão, entre 18 e 65 anos, e seus hábitos no “Face”. Além do senso de merecimento e desejo de manipulação mencionados acima, são traços “tóxicos” (como diz o artigo) da personalidade narcísica com muitos amigos no “Face” a obsessão com a autoimagem, amizades superficiais, respostas especialmente agressivas a supostas críticas feitas a ela, vidas guiadas por concepções altamente subjetivas de mundo, vaidade doentia, senso de superioridade moral e tendências exibicionistas grandiosas.

Pessoas com tais traços são mais dadas a buscar reconhecimento social do que a reconhecer os outros.
 Segundo o periódico britânico, a assistente social Carol Craig, chefe do Centro para Confiança e Bem-estar (meu Deus, que nome horroroso…), disse que os jovens britânicos estão cada vez mais narcisistas e reconhece que há uma tendência da educação infantil hoje em dia, importada dos EUA para o Reino Unido (no Brasil, estamos na mesma…), a educar as crianças cada vez mais para a autoestima.

Cada vez mais plugados e cada vez mais solitários. Na sociedade contemporânea, a solidão é como uma epidemia fora de controle. O Facebook é a plataforma ideal para autopromoção delirante e inflação do ego via aceitação de um número gigantesco de “amigos” irreais. O dr. Viv Vignoles, catedrático da Universidade de Sussex, no Reino Unido, afirma que, nos EUA, o narcisismo já era marca da juventude desde os anos 80, muito antes do “Face”.

Portanto, a “culpa” não é dele. Ele é apenas uma ferramenta do narcisismo generalizado. Suspeito muito mais dos educadores que resolveram que a autoestima é a principal “matéria” da escola. A educação não deve ser feita para aumentar nossa autoestima, mas para nos ajudar a enfrentar nossa atormentada humanidade.

Publicado em: http://www.revistapontocom.org.br/artigos/narcisismo-no-facebook