Vivo: conectados vivemos melhor

Com o slogan "Conectados vivemos melhor", a Vivo reforça a lógica de que devemos estar sempre conectados para sermos pessoas melhores ou para conseguir aquilo que almejamos. Vejam os vídeos:

"A vida fica melhor quando a melhor internet está sempre com você":


"Pra viver melhor, vivo conectado":








Barbie Video Girl

Barbie com câmera embutida. Para saber mais, acesse: www.barbie.com/videogirl


“A Internet mudou a nossa percepção do tempo”, diz Nicholas Carr


Entrevista com Nicholas Carr, autor de "A geração superficial: o que a internet está fazendo com os nossos cérebros" e finalista do Pulitzer. Carr tem sido um crítico dos efeitos da Internet no nosso cérebro. Ele diz que a velocidade e bombardeamento de informação constante estão fazendo com que percamos a capacidade de concentração e nos tornemos menos reflexivos.


O que é que o surpreendeu mais no avanço da Internet desde que a começou a usar?

O mais surpreendente foi a transformação de um meio de informação para um meio de mensagens – particularmente nos últimos anos, as pessoas tendem a usar a tecnologia para trocar mensagens pessoais, mais do que para procurar informação.

Desde o princípio que o email foi uma parte importante da Internet, mas a web era mais usada para a visita a páginas, para encontrar informação e explorar assuntos. À medida que usamos mais as redes sociais, a Internet torna-se mais num meio para enviar e receber mensagens. Não esperava que o uso da tecnologia mudasse tão drasticamente.

Perdemos a capacidade de afastar as distrações e de sermos pensadores atentos, de nos concentrarmos no nosso raciocínio

E como é que esse aumento na troca de mensagens afeta a forma como interagimos e pensamos?

A forma como a Internet se desenvolveu tornou-a mais distractiva, exigindo às pessoas que retenham constantemente pequenas partes de informação e que monitorizem pequenas correntes de informação. Uma das grandes mudanças nos últimos anos, com o advento de novas redes como o Facebook e o Twitter - e isso combinado com o aparecimento dos smartphones e dos pequenos computadores - é que a forma como a Internet funciona mudou. Portanto, passamos do modelo de ir a uma página web ver o que tinha para oferecer para o modelo de informação que está a correr constantemente e que aparece de vários sítios: do SMS, do email, das atualizações do Facebook e dos tweets. Isso encorajou as pessoas a aceitar interrupções constantes, a fazer várias coisas ao mesmo tempo. Perdemos a capacidade de afastar as distrações e de sermos pensadores atentos, de nos concentrarmos no nosso raciocínio, ou seja, a forma como a tecnologia evoluiu nos últimos anos tornou-se mais distractiva; encoraja uma forma de pensar que é a de passar os olhos pela informação e desencoraja um pensamento mais atento.

A geração que cresceu entre o mundo analógico e o digital está entre essas duas formas de pensar e agir, mas quem é “nativo digital” está já imerso nessa realidade multitasking [de tarefas múltiplas] e distractiva que descreve. Isto não é mais uma mudança do que propriamente uma perda na forma como essa geração pensa?

Não estou convencido de que exista essa separação clara e definida entre uma geração e outra, a dos “nativos digitais” e a dos “imigrantes digitais”. A tecnologia é usada por mais velhos e mais novos e os efeitos tendem a ser os mesmos para a maioria. A diferença é que quanto mais cedo se está imerso na tecnologia – e é verdade que a tecnologia está a ser usada por pessoas cada vez mais novas –, maiores serão os efeitos na forma como aprendem a pensar. Uma das coisas que se sabem é que as grandes mudanças no nosso cérebro acontecem quando somos novos. Portanto, se as crianças estão imersas numa tecnologia que encoraja o multitasking e o pensamento distractivo, vão adaptar-se a isso e infelizmente não vão ter a oportunidade ou o incentivo para desenvolver modos de pensar mais contemplativos e reflexivos. Há o mito de que os “nativos digitais” não sofrem os efeitos das novas tecnologias, porque se adaptam desde cedo. Acontece que isso é completamente errado: são bastante influenciados pelos aspectos positivos e negativos da tecnologia, porque ela marca a forma como pensam desde o princípio.

Como é que imagina as principais mudanças na forma de pensar desta geração daqui a dez anos?

Não estou convencido de que exista essa separação clara e definida entre uma geração e outra, a dos “nativos digitais” e a dos “imigrantes digitais”. A tecnologia é usada por mais velhos e mais novos e os efeitos tendem a ser os mesmos para a maioria

As conexões do nosso cérebro formam-se durante esse período em que lançamos as fundações do nosso modo de raciocinar que perdura pelo resto das nossas vidas. Se a maior parte da nossa experiência se centra em olhar para um ecrã, em particular um ecrã de computador, que encoraja mudanças rápidas na nossa atenção, o multitasking e a atenção repartida, então esse passa o ser o modo como optimizamos o nosso cérebro para agir – treinamo-nos a nós próprios para pensar dessa forma. Por outro lado, se não dermos oportunidade para desenvolver outros modos de pensar mais atentos que requerem concentração – o tipo de pensamento que é encorajado, por exemplo, por um livro impresso, porque não há mais nada além das páginas –, isso vai influenciar a forma como pensamos e mais especificamente a estrutura do nosso cérebro. Essencialmente, estamos a fazer uma escolha ao disponibilizar a tecnologia para crianças cada vez mais novas, estamos a fazer com que elas pensem de uma forma que diria superficial, dando informação a toda a hora, dividindo a sua atenção. Não penso que isto seja a primeira vez que isto acontece com a tecnologia, mas a sociedade devia fazer julgamentos sobre a forma como usamos as nossas mentes baseados no que a tecnologia tem de bom e de mau.

No seu livro "A geração superficial: o que a internet está fazendo com os nossos cérebros" fez uma analogia sobre as novas ferramentas com os mapas, que transformaram a nossa noção de tempo e de espaço, e, por exemplo, o relógio mecânico, que na altura também transformou a nossa noção do tempo. Por que acha que a Internet tem mais influência na nossa forma de pensar do que os mapas ou relógios tiveram na altura?

Acho que os mapas e os relógios não influenciaram completamente a forma como pensamos, antes encorajaram modos de pensar mais abstratos sobre o mundo, mudaram a nossa percepção do espaço e de tempo. Olhando para a Internet e para os computadores em geral: nunca tivemos tecnologia que usássemos tão intensamente durante todo o dia. Cada vez mais pessoas usam smartphones. Que modos de pensamento a tecnologia incentiva e que modos de pensamento desincentiva? Como disse, encoraja um modelo de pensamento mais disperso e desencoraja um pensamento mais atento. Algumas pessoas podem dizer que o pensamento mais tranquilo, contemplativo, não é muito importante, que deveríamos tornar-nos mais superficiais e obter informação mais rapidamente. Há outras pessoas, como eu, que defendem que há certos aspectos da mente humana a que só temos acesso quando prestamos atenção. Há provas de que a atenção é crucial para a formação de memória, para o pensamento crítico e conceptual e, por isso, essas formas de pensar são extremamente importantes para aproveitar todo o potencial da mente humana.

Falando da memória a longo prazo, uma das coisas que os aparelhos nos permitem fazer – o computador, o email, o telemóvel – é documentar e arquivar as nossas conversas, relações, muito mais do que antes. Como acha que a nossa relação com o passado vai ser afetada por isso?

Não tenho a certeza de que vá afetar o nosso passado. As pessoas tiraram fotografias, e mais recentemente fizeram vídeos, e uma das coisas que sabemos é que, quando estamos a registar estas coisas, achamos que é muito importante, mas depois na verdade não olhamos para elas, achamos um pouco chato revisitar as coisas do nosso passado. É verdade que o Facebook e outros meios nos permitem armazenar mais informações e imagens sobre a nossa vida, mas não tenho a certeza de que as pessoas passem, de facto, muito tempo a olhar para elas….

Há provas de que a atenção é crucial para a formação de memória, para o pensamento crítico e conceptual e, por isso, essas formas de pensar são extremamente importantes para aproveitar todo o potencial da mente humana

Ter acesso imediato a factos, à informação e às nossas interações parece influenciar o modo como formamos memórias. Há estudos que mostram que quanto mais se acredita que se vai encontrar algo através do Google, menos provável é que nos lembremos disso. Não há nada de errado nisso, sempre houve livros. O perigo aqui é que algumas pessoas pensem que, se tudo estiver disponível online, não temos de nos lembrar de nada, não temos de ter essa informação pessoal na nossa memória a longo prazo. A questão é que a memória pessoal é diferente daquilo que está online. Muita da riqueza do nosso pensamento vem da nossa capacidade de deslocar informação – factos, emoções – da nossa memória de curto prazo para a nossa memória a longo prazo. É através desse processo – daquilo a que os psicólogos chamam “consolidação da memória” – que ligamos aquilo que sabemos, aquilo que aprendemos, a nossa experiência com outros factos e experiências. E são essas conexões, essas conexões pessoais que fazemos entre toda a informação que está na nossa memória, que nos permitem pensar conceptualmente, ir além dos pequenos bocados de informação e factos que os computadores fornecem e formar um conhecimento pessoal único – o que na verdade desenvolve o eu pessoal. Por isso, há o perigo de confundirmos os dados de computador e que estão online com memória pessoal, que são coisas diferentes e desempenham papéis diferentes. Mas se sacrificamos a nossa memória pessoal porque acreditamos que podemos encontrar tudo online, então perdemos a base do nosso pensamento mais profundo.

Hoje a Internet, como observa, está refém da velocidade e da “alimentação” constante. Como é que os media podem tirar vantagens de outro tipo de velocidade da Internet?

Uma das coisas mais interessantes que a Internet está a mudar é a nossa percepção do tempo – está a fazer-nos esperar por respostas e informação muito rápidas e a treinar-nos para que, cada vez que clicamos num link, termos informação no segundo seguinte. Quando enviamos um SMS, um email, esperamos uma resposta muito rápida. Esta mudança da forma como percepcionamos o tempo e a nossa necessidade de resposta imediata influencia definitivamente a forma como usamos os media em geral. Esperamos muito mais estímulos e respostas muito mais rápidas do que as que tivemos no passado. Por um lado, há muitas coisas boas nisso. Por outro, isso desafia as organizações dedicadas a notícias. A distinção na qualidade, nas fontes de informação torna-se cada vez menos importante, porque as pessoas apenas querem muita coisa e rapidamente – e torna-se difícil para as empresas de media se distinguirem umas das outras e dizerem às pessoas para abrandar e passarem mais tempo em cada coisa que publicam. Não sei como é que a indústria dos media se vai adaptar e fazer a transição, porque ainda estamos no meio do processo.

Disse concordar com os críticos do Facebook e do Twitter que vêem estas redes sociais como meios para satisfazer a nossa vaidade e necessidade de auto-expressão. Como é que responde a outra corrente que as descreve como um bem valioso que mobiliza pessoas e produz conteúdo, tirando vantagem das pessoas que têm tempo livre para fazerem coisas a favor da comunidade?  

Concordo com muitos desses argumentos. Uma das coisas boas da Internet é que permite às pessoas expressarem-se de mais formas do que no passado. Não sou contra a auto-expressão. O que acontece, particularmente com o Facebook, é que se tornou menos sobre auto-expressão profunda e tornou-se mais uma gestão de imagem, autopromoção, é a ansiedade de estar constantemente em conversa e a actualizar o perfil. De alguma maneira somos tão puxados pela nossa auto-imagem que estas ferramentas nos incentivam a pensar na forma como nos apresentamos a nós próprios, como se fôssemos uma criação mediática a toda a hora. E isso pode interferir com uma auto-expressão profunda. Mas cada rede é diferente – a forma como evoluíram fez com que se tivessem tornado mais uma auto-expressão rápida do que profunda.

Ainda é crítico de projetos como a Wikipédia?

Quando escrevi isso em 2005, a Wikipédia não era especialmente boa, embora recebesse já todo o tipo de elogios. Mas tenho de reconhecer que se tornou muito melhor. Em muitos aspectos é uma produção incrível de pessoas que se interessam por democratizar a informação. Melhorou e desempenha um papel muito importante de distribuição de informação grátis para pessoas que, de outro modo, teriam dificuldade em chegar a ela. Acho que há sempre o perigo de se tornar a única fonte de informação, em vez de ser apenas o ponto de partida.

Publicado em: http://www.publico.pt/tecnologia/noticia/a-internet-mudou-a-nossa-percepcao-do-tempo-1573458

Evgeny Morozov: Será que a Internet é o que Orwell temia?

O efeito Facebook

Tudo começou com uma novidade entre estudantes no alojamento de uma das universidades mais exclusivas e prestigiadas do mundo. Mas em pouco tempo o Facebook transformou-se numa empresa com mais de 500 milhões de usuários e obteve um dos mais vertiginosos crescimentos já registrados na história. Constitui uma parte essencial da vida social de centenas de milhões de adultos e adolescentes no mundo. À medida que o Facebook conquista usuários e fãs, cria efeitos surpreendentes e já foi, inclusive, usado para a mobilização de manifestações e protestos políticos. David Kirkpatrick contou com total cooperação dos principais executivos do Facebook para essa pesquisa com o objetivo de produzir esta fascinante narrativa sobre a história da empresa e seu impacto em nossas vidas. O autor narra os sucessos e equívocos dessa rede social e dá aos leitores o mais completo perfil disponível de Mark Zuckerberg — o fundador, o CEO e o principal responsável pela notável ascensão da empresa. Esta é a história do Facebook que não pode ser encontrada em nenhum outro lugar.

Título: O efeito Facebook: Os bastidores da história da empresa que conecta o mundo
Autor: David Kirkpatrick
Editora: Intrinseca
Valor: R$39,90

Phone Stack




Os smartphones trouxeram diversas melhorias para a vida, facilitaram o acesso a e-mail e redes sociais e são muito bons para matar o tempo enquanto esperamos por qualquer coisa. Mas, por outro lado, eles também criam um sentimento de que não observar o Twitter a cada cinco minutos pode fazer com que a gente perca alguma coisa importante que está acontecendo no mundo. E, por isso, muitos não conseguem se soltar do aparelho mesmo quando estão sentados em uma mesa de bar com um grupo de amigos.

Se no seu grupo de amigos existe alguém assim - aquele que, a cada três minutos, tira o celular do bolso para ver o que de importante está acontecendo no mundo enquanto ele desperdiça a vida sentado em uma cadeira conversando com pessoas reais - então um jogo criado nos Estados Unidos pode ajudar a diminuir o desconforto que isso causa em todos aqueles que querem interagir com pessoas de verdade, mas estão presas a um smartphone: chama-se phone stack, ou "empilhar os telefones".

A ideia é bem simples: ao sentar com seus amigos, seja em um bar ou em um restaurante, todos colocam os aparelhos empilhados no centro da mesa. Mesmo com notificações push, alertas e mensagens ligadas, o desafio é resistir e não pegar o aparelho para checar nada. Quem não conseguir aguentar e pegar o smartphone perde - e o castigo é ter que pagar a conta de todos.

Apesar do castigo ser bem pesado, o jogo ajuda a voltar àquele velho tempo em que não tínhamos acesso à internet a qualquer momento e, por isso, valorizávamos bastante o tempo gasto conversando com nossos amigos. Pode ser difícil, mas o prazer de interagir com pessoas reais e não com nomes de usuário no Twitter deve compensar.

Entrevista com Steven Johnson

Entrevista com Steven Johnson no programa Roda Viva.



Parte I: http://youtu.be/QX3MUHe5gZY
Parte II: http://youtu.be/JqzUHyhXhhY
Parte III: http://youtu.be/QQR1Aotohyg
Parte IV: http://youtu.be/fIrROkgkB2Y
Parte V: http://youtu.be/kevzqAQ6rxI
Parte VI: http://youtu.be/uvy2fSWZRvM
Parte VII: http://youtu.be/zq10g7QYmSw
Parte VIII: http://youtu.be/Qj9KmMKL5oM

Redes ou paredes


Para que serve a escola? Será que essa instituição se tornou obsoleta? Duas perguntas inquietantes, que são o ponto de partida para esta reflexão ensaística, extremamente atual, sobre a crise da escola. A ênfase recai sobre a maneira como as novas tecnologias de comunicação, sobretudo os aparelhos móveis de acesso às redes informáticas e os estilos de vida que eles implicam, estão afetando o funcionamento dessa instituição-chave da modernidade. De que maneira as subjetividades e os corpos contemporâneos reagem ao contato cotidiano com esses dispositivos, e como isso influencia sua relação com a escola?
O livro analisa os fatores envolvidos na crescente incompatibilidade entre os novos modos de ser e estar no mundo, por um lado, e as já antiquadas instalações escolares, por outro, com suas regras e seus valores, suas premissas e ambições definidas há cerca de duzentos anos. As subjetividades se constroem nas práticas cotidianas de cada cultura, e os corpos também se esculpem nesses intercâmbios, afirma Paula Sibilia. Este texto procura acompanhar os itinerários que compuseram essa trama, até ela chegar a sua configuração mais atual, detendo-se prioritariamente nos modos de ser e estar no mundo que surgem hoje em dia, e que costumam se relacionar com a escola de modos conflitivos.

As novas gerações falam uma língua bem diferente daquela que servia para comunicar os que se educaram tendo a escola como seu principal meio de socialização e tendo a cultura letrada como seu horizonte universal, com o firme respaldo institucional do projeto moderno abrigado por cada Estado nacional. [...] O desafio é enorme, pois implicaria inventar um dispositivo capaz de fazer com que essas paredes corroídas e cada vez mais infiltradas voltem a significar algo e, desse modo, que se transforme tanto a sua velha função confinante e disciplinadora quanto a sua condição emergente de mero galpão ou depósito. [...] Será necessário transformar radicalmente as escolas [...] redefini-las como espaços de encontro e diálogo, de produção de pensamento e decantação de experiências capazes de insuflar consistência nas vidas que as habitam.

Título: Redes ou paredes: a escola em tempos de dispersão
Autora: Paula Sibilia
Editora: Contraponto
Valor: R$44,00

Comercial do Macintosh, da Apple, faz menção a "1984", de George Orwell

Facebook: o achatamento de nossas vidas


Por José Vitor Malheiros

Não é preciso ser Fernando Pessoa nem sofrer de personalidade múltipla para ser várias pessoas. Todos somos várias pessoas. Todos temos várias versões do nosso eu, várias personae, que activamos e desactivamos ao longo do dia conforme as circunstâncias e os interlocutores, que modulamos automática mas precisamente no espaço de uns segundos, de forma a obter o máximo benefício possível das nossas interacções com os outros. Não mostramos a mesma personalidade quando falamos com a nossa namorada ou com o pai da namorada. Não falamos com os nossos filhos como falamos com o nosso chefe no trabalho. Não contamos as mesmas anedotas à nossa mãe e aos colegas do trabalho. Nem sequer somos os mesmos com os amigos do futebol e os amigos da universidade. O nosso tom de voz muda, a atitude corporal muda, o olhar, as interjeições, o léxico, a maneira de rir.

Vivemos bem com esta multiplicidade de eus. Satisfaz-nos as várias facetas da personalidade. Podemos ser reflectidos e atrevidos, tímidos e espalhafatosos, sérios e brincalhões, prudentes e aventureiros, serenos e frenéticos, todas essas coisas que todos somos.

Na vida real podemos ser uma coisa para cada pessoa, uma pessoa para cada circunstância. Sem que cada um saiba como somos para os outros. Mas nas redes sociais tudo muda.

E muda porque na web usamos apenas uma personalidade. Sim, é verdade que podemos criar vários avatares, heterónimos com vidas próprias, cada um com os seus gostos e idiossincrasias, mas só quem tenha realmente tentado fazê-lo sabe como isso é difícil de gerir. Tão difícil que rapidamente se abandonam os heterónimos. Quando comecei a usar o Facebook também o tentei fazer, criando um perfil profissional e outro pessoal – muita gente que ainda o faz – mas a dificuldade começa na definição das fronteiras. Os dois mundos têm demasiadas intersecções, há demasiadas coisas que queremos partilhar com ambos. E há muitas coisas que só queremos partilhar com um subconjunto de um desses mundos, ou com um subconjunto dos dois – os que são do nosso clube, os amantes de poesia… É demasiado complicado, ingerível. Enganamo-nos, publicamos isto sob a personalidade do outro, trocamos amigos. Exige a paciência de um obsessivo e mais tempo livre do que temos. Começamos a meter as mesmas pessoas nas duas redes e os dois grupos acabam por ficar iguais um ao outro, acabamos a assumir que somos só um, com tudo ao molho, com amigos que não se falam uns aos outros, cheios de contradições e gostos heterogéneos.

Na vida real podemos dizer tudo mas apenas uma parte a cada um. Nas redes dizemos tudo a todos, ao mesmo tempo. Há um achatamento de todos os planos da nossa vida num único, como quando fazemos flatten num programa de desenho. Sim, é possível seleccionar, criar grupos, definir privilégios, escolher com quem se partilha o quê – mas, mais uma vez, já o tentaram fazer? É possível, mas trabalhoso. Acabamos sempre por concluir que não vale a pena. Para quê? Não temos nada a esconder!

Esta é, para mim, uma das principais características do Facebook: a perda (relativa, não absoluta) da multidimensionalidade das nossas relações. Quando falamos no Facebook dizemos mais do que gostaríamos, porque dizemos tudo a todos. Claro que satisfaz o nosso voyeurismo (“Olha, a Maria faz culturismo!”) e claro que há demasiada informação para que toda a gente repare em tudo o que nos diz respeito. Estamos relativamente protegidos pela densa nuvem de dados. Mas com um mínimo de atenção uma pessoa conhecida mas com quem habitualmente não partilharíamos informação conhece todos os membros da nossa família, onde trabalham e quando fazem anos, conhece as nossas ideias políticas, paixões clubísticas, preferências políticas e literárias, o que fazemos nas férias, que livros lemos, que filmes vemos e, claro, quem são os nossos amigos, colegas e conhecidos. E isto quando se trata de um amador. Porque um bom programa de data mining, daqueles que são usados pelos serviços de informações, consegue escavar mais fundo e concluir, pela análise textual do que escrevemos e pelo nosso ciclo de actividade online, quase tudo o que nos passa pela cabeça (estado de saúde, estado de espírito). Se tivesse Facebook George Smiley nunca teria precisado de sair de Oxford.

Qual é o problema? Para começar há (terríveis) problemas de privacidade. Há quem anteveja nos próximos anos uma epidemia de abusos em relação aos adolescentes de hoje que, impensadamente, se habituaram a viver na rede, em estado de e-comunitarismo total e permanente, partilhando pormenores íntimos e fornecendo, sem o saber, dados que podem prejudicar seriamente a sua possibilidade de obter uma bolsa, de conseguir um emprego ou uma promoção, de ter um empréstimo do banco, de fazer um seguro de saúde, etc. Pode não se tratar de algo muito violento. Numa sociedade relativamente aberta e com algumas protecções democráticas, como aquela em que ainda vivemos, isso pode não significar risco de prisão por crime de opinião ou condenação ao ostracismo devido às preferências sexuais. Mas significa que certas pessoas, com algumas fragilidades (uma tendência para a depressão, uma vida amorosa infeliz, uma família disfuncional, uma linguagem pouco cuidada, amigos pouco recomendáveis, atitudes demasiado assertivas, preferências heterodoxas de qualquer tipo, sejam elas vestimentárias ou alimentares), podem ter uma vida um tudo-nada mais difícil que as outras. Pode ser uma coisa estatística, um desvio ligeiro. Mas isso, ao longo dos anos, pode ir empurrando pessoas com determinadas características para novos guetos ­– bolsas de desemprego, de menor protecção social, menos acesso a todo o tipo de bens.

Mas isso não é tudo. Este achatamento dos vários planos da nossa vida numa comunicação cândida do que fazemos, pensamos, gostamos e desejamos, numa esfera aparentemente global, padece de dois defeitos: ela nem é suficientemente privada, nem totalmente pública, situando-se num limbo vago de meias-tintas relacionais e sociais.

O que estaremos a perder com esta insuficiência de intimidade, com esta escassez de silêncio, de recolhimento, de reflexão íntima, de modéstia, de introspecção, com estes novos hábitos de pensar-dizer e de sentir-dizer que se instalaram na juventude? Não sei. Mas receio que algo se perca de importante.

Por outro lado, se comunicar no Facebook é comunicar num novo “espaço público”, de infinitas e interessantes possibilidades, esse espaço é, de facto, fragmentado. Um conjunto de bolhas, que se intersectam e onde existem inúmeros vasos comunicantes, é certo, mas mundos independentes. Se é certo que se pode lançar uma informação no Facebook que dá a volta ao mundo num dia, é igualmente verdade que muito do que se passa aqui é absolutamente opaco para o mundo. É por isso que, apesar do Facebook, a imprensa e o jornalismo continuam a desempenhar um papel fundamental, na criação de um verdadeiro espaço público, verdadeiramente aberto a todos e partilhável por todos.

Publicado em: http://www.publico.pt/tecnologia/noticia/facebook-o-achatamento-das-nossas-vidas-1573410

O vidente

Campanha belga mostra o que está por trás de um vidente...

Tudo que é ruim é bom para você

"Tudo que é ruim é bom para você" – o livro que revelou Steven Johnson como um dos principais pensadores do ciberespaço – desmistifica a crença pessimista de que a cultura contemporânea está mais superficial e viciosa que nunca. Na contramão da maior parte da crítica cultural, defende que a cultura popular de hoje – jogos de computador, séries de TV e blockbusters, além, claro, da internet – exige muito mais do nosso sistema neurológico e cognitivo que no passado. Na verdade, desenvolvemos capacidades que gerações anteriores nem sonhariam possuir. Com amplo conhecimento das mídias pop, assim como de neurociência, ciências humanas e história cultural, Johnson lança aqui ideias argutas e provocadoras, que ajudaram a mudar a maneira de como assistimos à TV, jogamos games ou, até mesmo, lemos um romance.

Título: Tudo o que é ruim é bom pra você: como a TV e os games nos tornam mais inteligentes
Autor: Steven Johnson
Editora: Zahar
Valor: R$38,00

Entrevista com Andrew Keen

Entrevista com Andrew Keen, autor de O Culto do Amador.

Parte I:


ParteII:

Tecnologia e o futuro do policiamento


Por Evgeny Morozov

Graças à tecnologia, a polícia tem um futuro brilhante - e não apenas porque pode pesquisar sobre suspeitos no Google. Duas outras tendências menos visíveis estão se desenvolvendo para tornar seu trabalho mais fácil e mais efetivo, mas despertam questões complicadas sobre privacidade e liberdades civis.

Primeiro, o policiamento - como todas as demais atividades - está sendo reimaginado na era das montanhas de dados, sob a expectativa de que análise mais ampla e profunda sobre passados crimes, combinada a algoritmos sofisticados, possa ajudar a prever futuros delitos. Trata-se de uma prática conhecida como "policiamento preditivo" e, ainda que exista há apenas alguns anos, muitos especialistas a veem como uma revolução na forma pela qual o trabalho policial é realizado.

Um exemplo é o departamento de polícia de Los Angeles - o notório LAPD, bem conhecido via filmes de Hollywood -, que está usando um software chamado PredPol. O software começa pela análise de anos de estatísticas criminais disponíveis, e depois divide o mapa de patrulha em zonas (de cerca de 45 metros quadrados) e calcula a distribuição e frequência de crimes em cada uma delas. Por fim, informa aos policiais sobre as probabilidades de local e horário de crimes, o que permite que eles policiem de maneira mais intensa as áreas sob ameaça.

A atraente ideia que embasa o policiamento preditivo é a de que é muito melhor prevenir um crime antes que aconteça do que chegar depois e investigá-lo. Assim, mesmo que os policiais em patrulha não apanhem o bandido em flagrante, sua presença no lugar certo e na hora certa pode exercer efeito dissuasório.

A lógica parece sólida. Em Los Angeles, cinco divisões do LAPD que utilizam o software para patrulhar áreas habitadas por cerca de 1,3 milhão de pessoas viram um declínio de 13% na criminalidade. A cidade de Santa Cruz, também usuária do PredPol, viu queda de 30% no número de furtos. Estatísticas positivas semelhantes podem ser obtidas junto a departamentos policiais de todo o país, e os oficiais que comandam o processo em Los Angeles têm viajado a outros municípios para divulgar os méritos do sistema.

Se essa "previsão" parece familiar, é porque seus métodos foram inspirados pelas companhias de Internet. Em artigo para a revista "Police Chief", em 2009, um importante comandante da polícia de Los Angeles elogiou a capacidade da Amazon de entender "os grupos únicos em sua base de consumidores, e caracterizar seus padrões de comportamento", o que permite que a empresa "não apenas antecipe mas também promova ou direcione o comportamento futuro". Assim, da mesma forma que os algoritmos da Amazon tornam possível prever que livros alguém comprará no futuro, algoritmos semelhantes poderiam dizer à polícia com que frequência --e em que locais e horários-- certos crimes podem ocorrer.

Perceba que não temos como examinar os algoritmos da Amazon; eles são completamente opacos e não estão sujeitos a escrutínio externo. A Amazon alega que o sigilo permite que se mantenha competitiva, e pode ser que tenha razão. Mas a mesma lógica não pode ser aplicada ao policiamento: se ninguém puder examinar os algoritmos --o que parece provável porque o software preditivo costuma ser desenvolvido por empresas privadas -, não teremos como saber que distorções e práticas discriminatórias eles incorporam.

Por exemplos, crimes tendem a acontecer em áreas pobres e racialmente diversificadas. Será que os algoritmos --com sua suposta objetividade-- seriam capazes de causar discriminação racial ainda mais intensa no combate ao crime? Na maioria dos regimes democráticos, hoje, a polícia precisa de causa provável - alguma forma de prova, e não apenas um palpite - para deter e revistar alguém na rua. Mas armada do software de previsão, a polícia não poderia simplesmente afirmar que está agindo como os algoritmos ordenam? E, se for esse o caso, como os algoritmos poderiam depor em um tribunal?

Também há o problema dos crimes que passam sem denúncia. Embora a maioria dos homicídios seja reportada, muitos estupros e furtos residenciais não são. Mesmo na ausência desse tipo de denúncia, a polícia continua a desenvolver métodos de descobrir quando algo de estranho acontece em um bairro. O policiamento preditivo, por outro lado, poderia substituir esse conhecimento tácito por uma crença ingênua no poder abrangente das estatísticas. Se apenas dados sobre crimes que foram registrados em queixas formais forem usados para prever futuros crimes e orientar o trabalho policial, algumas formas de crime podem passar sem registro - e com isso sem qualquer repressão.

Mas existe ainda outra tendência que tornará o trabalho policial ainda mais fácil e, se combinada ao policiamento preditivo, potencialmente muito mais controverso. Empresas como o Facebook cada vez mais utilizam algoritmos e o grande volume de dados acumulados em seus servidores para prever quais dentre seus usuários poderiam cometer crimes. Eis como o sistema funciona: estudando determinadas indicações comportamentais - por exemplo, o usuário só escreve mensagens para menores de idade? A maioria de seus contatos são mulheres? Ele usa palavras como "sexo" ou "encontro" em suas conversas? - os sistemas preditivos do Facebook podem identificar certos usuários como suspeitos. Os funcionários da empresa então examinam cada caso e encaminham informações à polícia caso necessário.

A Reuters reportou recentemente sobre como os algoritmos preditivos ajudaram o Facebook a apanhar um homem de meia-idade que conversava sobre sexo com uma menina de 13 anos, com a qual estava marcando um encontro para o dia seguinte. A polícia entrou em contato com a menina, apreendeu seu computador e apanhou o sujeito. Mas nem tudo são algoritmos: o Facebook reconhece que está usando arquivos de chats reais que precederam agressões sexuais para ajudar nesse trabalho, da mesma forma que departamentos policiais usam dados não estatísticos.

É difícil questionar a aplicação desses métodos à captura de predadores sexuais que tomam crianças por alvo. Mas perceba que o Facebook pode estar realizando toda espécie de trabalho policial parecido: detectando potenciais traficantes de drogas, potenciais violadores de direitos atuais (a empresa já proíbe seus usuários de usarem links para muitos sites de troca de arquivos) e, especialmente depois dos tumultos no Reino Unido no ano passado, prevendo quem será a próxima geração de arruaceiros.

É claro que a polícia já estuda as redes sociais em busca de sinais de inquietação. Mas, ao contrário do Facebook, não vê o quadro todo --as comunicações privadas e as ações silenciosas, como os links que estão sendo clicados e as páginas que estão sendo abertas. Mas o Facebook, como a Amazon quanto aos livros, certamente sabe tudo sobre isso-- e portanto seu poder preditivo é muito superior ao da polícia.

Além disso, enquanto a polícia precisa de mandados para investigar os dados privados de um usuário, o Facebook pode estudar os dados de seus usuários sempre que assim desejar. Da perspectiva da polícia, poderia ser vantajoso transferir todo o trabalho sujo ao Facebook, porque as investigações internas da empresa não precisam passar pelos tribunais.

Com dados suficientes e os algoritmos corretos, todos nós pareceremos suspeitos. O que acontece, portanto, quando o Facebook nos denunciar à polícia --antes que tenhamos cometido qualquer crime? Será que, como personagens em um romance de Kafka, teríamos dificuldade para compreender qual foi o nosso verdadeiro crime, e passaríamos o resto da vida lutando para reabilitar nossas reputações? E se os algoritmos estiverem errados?

As recompensas do policiamento preditivo podem ser reais, mas seus perigos também o são. A polícia precisa sujeitar seus algoritmos a escrutínio externo e enfrentar a questão das distorções implícitas que carreguem. Os sites de redes sociais precisam estabelecer padrões claros sobre as medidas de autopoliciamento preditivo que adotarão, e sobre as dimensões de suas investigações sobre os usuários.

Embora o Facebook possa ser mais efetivo que a polícia na previsão de crimes, não deveria ser autorizado a exercer essas funções de policiamento sem que respeite as normas e regulamentos que definem o que a polícia pode e não pode fazer em uma democracia. Não podemos contornar os procedimentos legais e subverter as normas democráticas em nome da eficiência.

Publicado em: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/evgenymorozov/1122327-tecnologia-e-o-futuro-do-policiamento.shtml

Empresas da Internet em estilo retrô

Como seriam as grandes empresas da internet do início do século XXI se tivessem sido inventadas na década de 1950.







"COW" - O filme que vai fazer você parar de mandar SMS enquanto dirige

O vídeo é uma produção inglesa que procura alertar sobre o número de acidentes no trânsito provocados por distrações com aparelhos eletrônicos. O drama apresentado no vídeo é baseado numa história real de uma jovem que matou acidentalmente quatro pessoas na estrada após perder a concentração enquanto usava seu telefone celular.

Projeto 'Reconnect' sugere um dia sem eletrônicos e Internet



Você consegue passar 24 horas sem utilizar nenhum aparelho eletrônico? Este é o desafio que o projeto “Reconnect” propôs em todo o planeta. No último dia 2 de setembro, a campanha estimulou inúmeras pessoas a se desconectarem e “vivessem o mundo real”.

Criado no Facebook e com um vídeo promocional publicado no site Vimeo , o Reconnect Project tem como principal objetivo fazer não apenas com que as pessoas fiquem um dia longe da web. Ele estimula a criatividade.

O projeto incetiva os usuários a voltarem a se conectar no dia seguinte para compartilharem com os amigos como a vida pode ser interessante off-line.

O projeto é ousado, mais de 700 pessoas já aderiram à página no Facebook. “Deslogue e comece a criar, sozinho em um grupo, pinte, cante, escreva, filme, fotograe… Conte-nos uma história. Seja original. Sem reblogs, retuites, links e copiar e colar. Apenas conteúdo original”, pede o vídeo promocional do Reconnect.

É difícil imaginar um dia inteiro sem conexão aos eletrônicos, não? Nada de computador, smartphone, videogame… Somente a sua criatividade a serviço de um novo projeto.

Confira o vídeo:
Reconnect from © By Jono on Vimeo.

Vício em smartphones e tablets causa insônia, aumento de peso e doenças


Tendo problemas para dormir? Ganhando um pouco de peso? Seu smartphone ou computador podem ser os culpados. Na verdade, a culpa é mais provável por conta da sua obsessão com seu laptop e outros dispositivos do que dos aparelhos em si.

Um novo estudo de pesquisadores do Rensselaer Polytechnic Institute, em Troy, Nova York, mostra que mesmo uma exposição de duas horas para qualquer dispositivo de iluminação de fundo - smartphone, laptop, tablet - suprime a capacidade do seu organismo de produzir a melatonina, o que pode causar insônia, especialmente em adolescentes e idosos. A melatonina é um hormônio que ajuda a regular o relógio biológico do sono.

O estudo também mostrou que a exposição à iluminação ao longo de "muitos anos consecutivos" também pode levar ao aumento do risco de obesidade e diabetes, bem como do câncer de mama.

"Os desenvolvimentos tecnológicos têm levado a televisores maiores e mais brilhantes, telas de computador e telefones celulares", disse o pesquisador da universidade Bretanha Wood, que trabalhou no estudo. "Isto é particularmente preocupante em populações, como jovens adultos e adolescentes, que já tendem a ser notívagos."

O analista da ZK Research, Zeus Kerravala, disse que não estar surpreso que os dispositivos estão afetando a saúde, pois muitas pessoas são obsessivos por eles, mantendo-os constantemente por perto - mesmo quando estão dormindo.

"Eu posso ver que a obsessão com o Facebook, Twitter, mensagens de texto, e-mail e outras dúzias ou mais de maneiras de se comunicar estão prejudicando a nossa saúde", disse Kerravala. "As pessoas costumavam se desconectar do mundo exterior quando iam para a cama. Mas não fazem mais isso. Quase todo mundo que conheço dorme com o seu dispositivo não mais que poucos metros de sua cabeça, para que não perca quando algo acontece."

E quando mensagens de texto ou e-mails chegam, dispositivos fazem barulho e iluminam para alertar. Isso significa que mesmo durante o sono, nós estamos sendo bombardeados com essa luz eletrônica.

Para dormir melhor e manter a cabeça longe de outros problemas de saúde, as pessoas devem evitar o uso de seus dispositivos à noite - principalmente, antes de dormir. E não deve mantê-los ao lado da cama à noite. "As pessoas precisam querer se desligar", disse Kerravala. "Ligue o telefone em outra sala para carregar. Use um despertador como um despertador em vez de seu telefone, e perceba que o que está acontecendo no mundo da mídia social pode esperar até amanhã."

No entanto, Kerravala mostrou que esta será uma mudança difícil para uma porção de pessoas fazer. "Eu acho que nós fomos realmente fisgados", observou. "O smartphone é como uma droga que vicia. Quanto mais você usa, mais você quer. É quase como se precisássemos de um SPA (Smart Phone Anônimos) onde precisamos de conselheiros para nos ajudar."

Pesquisadores da universidade disseram que estão esperançosos de que fabricantes de dispositivos possam usar essa informação para mudar a iluminação em seus dispositivos para que os usuários não sejam tão afetados por ela.

Publicado em: http://idgnow.uol.com.br/mobilidade/2012/09/17/vicio-em-smartphones-e-tablets-causa-insonia-aumento-de-peso-e-doencas/

A Sociedade do Espetáculo

Mais importante obra teórica produzida no contexto que precedeu os acontecimentos de Maio de 1968, A sociedade do espetáculo é um livro genial e único, precursor de toda análise crítica da moderna sociedade de consumo. Para Antonio Negri, é um dos dez livros mais importantes do século. Para Jean–Jacques Pauvert, “não antecipou 1968, como normalmente se diz; antecipou o século XXI”. Está certo: nunca a tirania das imagens e a submissão alienante ao império da mídia, denunciadas por Debord, foram tão fortes como agora. Nunca os profissionais do espetáculo tiveram tanto poder: invadiram todas as fronteiras e conquistaram todos os domínios — da arte à economia, da vida cotidiana à política —, passando a organizar de forma consciente e sistemática o império da passividade. O livro é, sem dúvida, a mais aguda crítica à sociedade que se organiza em torno dessa falsificação da vida comum. A edição brasileira inclui dois trabalhos posteriores — um de 1979, outro de 1988 — em que Debord comenta sua própria obra.

Título: A Sociedade do Espetáculo
Autor: Guy Debord
Editora: Contraponto
Valor: R$44,00

Internet em excesso faz mal ao cérebro


A internet e os games estão formando uma geração de crianças com dificuldade para pensar por si próprias. Quem diz isso é a farmacologista e baronesa britânica Susan Greenfield, 61, que dá uma palestra hoje em São Paulo. Susan reconhece que a tecnologia tem efeitos positivos. Mas afirma que ela pode, também, causar atrofia cerebral em crianças que dedicam tempo demais a jogos e redes sociais.

Susan, que também esteve num evento ontem em Porto Alegre, costuma citar dois estudos em defesa das suas ideias. O primeiro, divulgado na publicação científica PLOS One, leva a assinatura de diversos cientistas chineses. Eles acompanharam 18 adolescentes viciados em internet. Examinando seus cérebros, notaram uma série de alterações morfológicas proporcionais ao tempo em que estiveram mergulhados no mundo virtual.

Outro estudo, liderado nos Estados Unidos pela cientista cognitiva Daphne Bavelier, foi publicado na revista Neuron. Seu foco são as mudanças comportamentais trazidas pela contínua exposição à tecnologia. A conclusão é que os videogames e a internet produzem alterações complexas no comportamento das pessoas, e não é fácil determinar o que é bom e o que é ruim nelas. Mas Daphne deixa claro que as mudanças existem e ficam gravadas no cérebro.

Outros cientistas destacam a incerteza apontada nessas pesquisas e criticam o fato de Susan falar sobre o assunto sem realizar estudos aprofundados sobre ele. Um dos críticos é o britânico Ben Goldacre. Em seu blog, ele aponta que Susan prefere falar à imprensa e ao parlamento britânico – onde ela ocupa uma cadeira na Câmara dos Lordes – em vez de escrever artigos científicos que seriam revisados e criticados por outros estudiosos.

Susan respondeu a ele numa entrevista à revista New Scientist dizendo que os cientistas que negam os danos cerebrais causados pelo excesso de exposição à internet são como aqueles que “negavam os malefícios do fumo 20 anos atrás”. Para ela, se formos esperar pelas evidências científicas, será tarde demais para fazer alguma coisa de modo a evitar esses supostos efeitos nocivos.

E a solução, é claro, não é banir a tecnologia, como declarou Susan à New Scientist: “Só restringir o acesso das crianças à internet não ajuda muito. Em vez disso, eu perguntaria: ‘O que podemos oferecer às crianças que seja ainda mais atraente e recompensador? Devemos planejar um ambiente 3D para elas em vez de colocá-las em frente a um que seja bidimensional.”

Publicado em: http://exame.abril.com.br/ciencia/noticias/internet-em-excesso-atrofia-o-cerebro-diz-pesquisadora

Mark Zuckerberg diz que o fim do e-mail está próximo


Por John Naughton

O fundador do Facebook está profundamente errado sobre os e-mails.

O e-mail está morto, de acordo com o jovem prodígio Mark Zuckerberg, proprietário do Facebook. Esta notícia chegou em um e-mail do editor, onde ele aninhado confortavelmente com as 1.401 outras mensagens que eu não tinha muita vontade de ler.

 Em uma inspeção mais minuciosa, verifica-se que Zuck não é exatamente uma fonte imparcial sobre esse assunto, porque a sua previsão foi feita quando ele lançou um novo "messaging" serviço para o seu 750 milhões de assinantes, o que ele obviamente espera que suplantar um meio de comunicação que tem sido em torno desde um engenheiro chamado Ray Tomlinson inventou em 1971.

Surtos de que o cientista da computação John Seely Brown chama de "endism" foram abundantes nas discussões sobre tecnologia de comunicações desde a época de Platão, que opinou que a escrita destruiria a memória. No século 20, foi amplamente alardeado que a televisão seria a morte do rádio primeiro e, depois do cinema.

 Quando o CD-ROM chegou, muitas pessoas previram a morte do livro impresso. O crescimento explosivo em mensagens de texto foi pensado para anunciar o fim da civilização como a conhecemos, ou pelo menos da gramática, ortografia e pontuação. E assim por diante, ad infinitum, até chegarmos a previsão atual que uma explosão de tweets, atualizações de status e mensagens em sites de redes sociais anuncia a morte do e-mail.

A previsão é reforçada pelo uso seletivo de estatísticas ambíguas. Por um lado, parece que os jovens usam e-mail menos que os mais velhos. De acordo com a comScore, uma empresa de pesquisa de mercado,  o número de e-mails enviados por  jovens com idades de 12 a 17 anos caiu em quase um quarto em 2010, quando as visitas a sites de webmails, como Gmail, Hotmail e Yahoo se recusou 6% no mesmo período.

A única coisa que é surpreendente sobre isso é que as pessoas se surpreendem por ele. A maioria dos adolescentes usam a tecnologia para se comunicar com seus amigos e para o e-mail propósito é, bem, muito formal. (Além do mais, porque é um meio assíncrono, você não sabe se alguém leu a sua mensagem.) Assim, as crianças utilizam sistemas de mensagens síncronas, como SMS e ferramentas de redes sociais que proporcionam imediatismo.

Mas o principal motivo dos jovens não usam e-mail é que eles ainda não aderiram ao mundo do trabalho. Quando (ou se) o fizerem, um choque desagradável espera, porque as organizações são viciados em e-mail. Em média os trabalhadores atuais recebem algo como 100 e-mails por dia e lidam com o dilúvio que se tornou um dos desafios de uma vida de trabalho.

As organizações são viciadas em e-mail há muito tempo e já passou o ponto de disfuncionalidade e agora já beira o patológico, com os funcionários enviando mensagens para colegas de cubículos próximos, com as pessoas cobrindo suas costas por cc-ing todos os outros e os gestores bombardeando subordinados com anexos. O problema real, em outras palavras, não é se o e-mail está morrendo, mas sim o fato de estar fora de controle.

Publicado em: http://www.guardian.co.uk/commentisfree/2011/nov/27/john-naughton-mark-zuckerberg-email

Primeira reportagem sobre vírus de computador

A primeira reportagem brasileira sobre vírus de computador foi feita pela TV Cultura, em 1990. Conheçam a "vacina pra matar o Michelangelo".

Novas tecnologias: nascem livres, viram monopólio. E a web?


Por Pedro Doria

A Comissão Federal de Telecomunicações americana ganhou um conselheiro dedicado à proteção do consumidor na internet e nos serviços móveis. É Tim Wu, professor da Escola de Direito da Universidade de Columbia, Nova York. Seu trabalho: garantir que a rede continue neutra. Que às grandes empresas de telecomunicações não seja permitido decidir se um site carregará mais rápido do que outro.

Não há quem entenda mais do assunto do que Wu. O melhor livro sobre tecnologia publicado no ano passado é seu The Master Switch, “o interruptor mestre” numa tradução literal. Wu tem uma tese, a de que a internet corre o perigo real e iminente de terminar controlada por um grande esquema monopolista. O que era uma tecnologia libertária pode se tornar fechada.

O argumento que usa é imbatível. Aconteceu assim com todas as principais tecnologias de comunicação no último século e meio. É o caso da telefonia, da indústria do cinema, rádio, televisão — até do telégrafo.

Poucos exemplos são mais claros do que o do surgimento da telefonia. Quando Alexander Graham-Bell inventou o telefone, na segunda metade do século 19, ele era pouco mais do que uma curiosidade. Nada que a poderosa Western Union, que controlava a comunicação telegráfica nos EUA, pudesse temer. E, no entanto, enquanto a velha tecnologia ruía em desuso, telefones espalharam-se por todo o país.

A AT&T, empresa fundada por Bell, teve um grande executivo: Theodore Vail. Empresas de telefonia com redes independentes surgiram pelos EUA, Vail comprou umas, sufocou outras. Convenceu governo e público de que suas intenções eram as melhores. De que prestava um serviço público e que esta obrigação era posta pela empresa acima do lucro. Ganhou o jogo.

Mas, bem no início, a telefonia era não apenas uma curiosidade como também uma tecnologia com ares de liberdade. Um cheiro de anarquia perante o monopólio odiado do telégrafo.

É um ciclo que se repente de novo e de novo. Uma tecnologia libertária surge promissora, desbanca uma indústria consolidada e conservadora, assume seu lugar. Transforma-se ela própria numa indústria consolidada que tenta sufocar quaisquer inovações.

A mesma AT&T tentou estancar o surgimento de fitas magnéticas para gravação de sons pois temia que pudesse concorrer em seu mercado.

Vail teve um quê de Steve Jobs em seu tempo, assim como seu discurso lembrava o de “não faça o mal” do Google. Não foi o único. O rádio, por exemplo, teve um início amador. Estava nas mãos de gente fascinada com suas possibilidades na comunicação. Ninguém ganhava dinheiro. Quem montava uma pequena rádio em casa transmitia música e informes com o desejo único de ajudar e divertir. Blogueiros de seu tempo.

Evidentemente, tudo mudou com o tempo. Grandes cadeias dominaram o rádio e fizeram fortunas com a invenção da propaganda radiofônica.

Todas as tecnologias do tipo surgiram com um discurso de liberdade e terminaram monopólios. Por que com a internet seria diferente?

Wu não considera que seja inevitável. Acha, apenas, que a cultura americana favorece este cenário. Nos EUA, a opinião pública considera que deve conter o quanto pode os poderes do governo. Mas o comportamento perante o poder privado, das grandes corporações, é diferente. Com esse, há hesitação na hora de intervir.

Descrito assim, Wu parece um professor saído das fileiras do Partido Comunista. Não é. Sua preocupação é a de garantir que a infraestrutura da internet não sofra o mesmo fim que suas antecessoras. Trata-se de uma tecnologia libertária que veio desbancar os monopólios anteriores. Este é o processo pelo qual o mercado resolve o problema.

Mas e se, desta vez, a tecnologia permanecesse livre? Um ambiente rico capaz de gerar uma cultura de inovação permanente? No qual ninguém tem o domínio total?

É justamente esse seu trabalho no governo dos EUA. Um trabalho que, de trivial, não tem nada. Afinal, o fácil é construir uma burocracia reguladora que termine por impedir a inovação que desejava garantir de início. É um desafio e tanto.

Publicado em: http://blogs.estadao.com.br/pedro-doria/2011/03/09/novas-tecnologias-nascem-livres-viram-monopolio-e-a-web/

Googled


      No começo, era apenas mais um site de busca. Hoje, é um gigante que ameaça as empresas de mídias tradicionais.
      Para entender como funciona o Google e o que ele representa, Ken Auletta entrevistou seus fundadores e seu CEO, além de seus principais colaboradores, resultando na história da empresa considerada revolucionária da busca na Internet.                                                                  O autor também conversou com representantes da ‘velha mídia’, procurando saber melhor o que a influência do Google pode significar para o futuro.
      O resultado é a mais completa história da empresa que revolucionou a busca na internet e ajudou a definir o começo do novo milênio.
      Resultado de uma pesquisa detalhada e imparcial, Googled é um livro indispensável para entender uma das empresas mais importantes da atualidade e para saber melhor o que sua influência pode significar para nosso futuro.

Título: Googled: A história da maior empresa do mundo virtual - e como sua ascensão afeta as empresas do mundo real
Autor: Ken Auletta
Editora: Agir
Valor: R$ 70,90

Matrix: sim, ela existe

Palestra de Augusto de Franco, no TEDxSP, em 2009.

Liberdade na internet: uma ideia ambígua


Por Evgeny Morozov.

É difícil negar a ambiguidade intelectual da ideia de "liberdade na internet" quando dois de seus mais fervorosos defensores são os ativistas idealistas do grupo de hackers Anonymous e os pragmáticos diplomatas do Departamento de Estado norte-americano --dois grupos que discordam quanto a quase tudo mais. Ironicamente, ambos podem terminar prejudicando a nobre causa que buscam promover.

Os problemas dos diplomatas são bem conhecidos, a essa altura. Embora Hillary Clinton goste de fazer discursos nos quais se retrata como a maior defensora da "liberdade na internet", a dura realidade é que ela representa um governo que se tornou o maior inimigo dessa causa. Dada a corrente infindável de leis draconianas de direitos autorais e segurança cibernética que surgem em Washington, é cada vez mais difícil ocultar o fato do público mundial, que começa a questionar por que os diplomatas norte-americanos continuam criticando a Rússia e a China sem nada dizer sobre as imensas operações de espionagem on-line que a Agência Nacional de Segurança (NSA) norte-americana vem conduzindo de suas instalações no Utah. E o Departamento de Estado tampouco objeta quando os aliados dos Estados Unidos pressionam por leis de vigilância mais severas; o Reino Unido, com seu projeto de lei de vigilância, serve como exemplo perfeito. A "agenda da liberdade na internet" promovida pelos Estados Unidos é impotente, na melhor das hipóteses, e pode até ser contraproducente, porque, ao enfatizar de forma exagerada a promessa libertadora da mídia social nas nações autoritárias, oculta diversas ameaças internas emergentes que nada têm a ver com ditadores --e tudo com vigilância agressiva, privacidade em recuo e a espantosa cobiça do Vale do Silício.

O caso do Anonymous, de sua parte, tampouco é tão simples quanto poderia parecer. O movimento é disperso, fluido e ocasionalmente desorganizado, e portanto esforços para retratá-lo como uma doutrina ideológica coerente são um desperdício de tempo. Mas a escolha recente de alvos do Anonymous fala por si só: de empresas de segurança na computação a sites do governo chinês, os alvos são escolhidos pelo desejo de defender a "liberdade na internet" --quanto a isso, as agendas do Anonymous e do Departamento de Estado se sobrepõem.

Por que esses alvos específicos? Previsivelmente, o Anonymous atribui às empresas de segurança na computação a intensificação da vigilância sobre os internautas, enquanto o governo chinês atrai ódio (justificado) por ser o mais poderoso censor da internet mundial.

Porque ataques como os do grupo propiciam excelentes espetáculos, sempre atraem a atenção da mídia, o que, ao menos no que tange aos projetos de lei de segurança na computação agora em debate, pode ter consequências importantes, já que uma maior cobertura de mídia pode ajudar a propiciar maior conscientização sobre as leis propostas. Mas espetáculos como esses sempre terminam por entediar; e chega inevitavelmente o dia em que a mídia perde o interesse. O espetáculo, em outras palavras, não é uma estratégia política sustentável. E o Anonymous ainda não propôs nada além do espetáculo; os ataques que a rede executa são baratos, fáceis e podem atrair milhares de participantes sem exigir demais deles. Ou seja, eles talvez constituam uma forma de "ativismo indolente", que faz com que os participantes se sintam bem mas não necessariamente avança as causas que pretendem promover.

Além disso --o que representa novo paralelo com o Departamento de Estado-, as campanhas do Anonymous podem se provar não só impotentes como contraproducentes. Por exemplo, é improvável que o setor de segurança na computação deixe de explorar o imenso interesse e o medo gerados pelos ataques do Anonymous. Cada novo ataque do Anonymous deve ser recebido como ótima notícia nos escritórios das companhias de segurança na computação que prestam serviços para o setor público e privado. Agora que o Anonymous revelou que até mesmo as empresas privadas de investigação não estão seguras --meses atrás, o grupo divulgou e-mails de uma delas-, o momento não poderia ser mais propício para os fornecedores de serviços de segurança na computação.

Em outras palavras, os "hacktivistas" continuam oferecendo ao setor fortes exemplos quanto ao motivo para que ainda mais verbas públicas sejam dedicadas ao reforço da vigilância da internet e à eliminação do anonimato dos usuários. Um exemplo são os ataques recentes do Anonymous aos sites da USTelecom e da Tech America, duas organizações setoriais de tecnologia que expressaram apoio à Lei de Compartilhamento e Proteção de Informações Cibernéticas (Cispa), o controvertido projeto de lei de segurança na computação que está em debate no Congresso norte-americano. Não é preciso ser um gênio para compreender que os ataques on-line a grupos que promovem leis de repressão a ataques on-line só reforçam sua causa. É como disparar uma bazuca durante uma sessão legislativa sobre controle de armas. Esse fator não escapou à atenção das organizações setoriais, e elas exploraram ao máximo o presente recebido do Anonymous. Assim, o presidente da USTelecom alegou que "por suas ações, os hacktivistas do Anonymous sublinham a importância da aprovação acelerada do projeto de lei bipartidário [Cispa], para garantir que a internet continue a ser um fórum aberto e seguro para todos". Não importa que destino venha a ter esse projeto de lei específico, é provável que os legisladores sofram crescente pressão para fazer alguma coisa quanto aos ataques do Anonymous --e essa "alguma coisa" não seria conducente a qualquer forma de "liberdade na internet".

Podemos esperar que algo semelhante aconteça na China. Os danos causados pelos ataques do Anonymous aos sites do governo chinês são mínimos, e o valor simbólico de expor a audiências internacionais a censura chinesa à internet podem ser definidos como insignificantes, porque o problema já é bem conhecido. Mas os ataques do Anonymous dão ao governo chinês bons motivos para investir na vigilância on-line, e talvez fazê-lo com apoio popular: o Anonymous não hesita em expor os detalhes de cartões de crédito de vítimas inocentes --e a classe média ascendente da China é perfeitamente capaz de discernir as implicações da insegurança on-line. Se os ataques continuarem, o Anonymous pode fornecer à China um "momento Stuxnet", mas sem impor qualquer dos paralisantes custos do Stuxnet --basta ver o atual flerte iraniano com a ideia de uma "internet nacional", nascido da grande ansiedade do país quanto aos ataques cibernéticos.

Será que o Anonymous não percebe nada disso? Por que não procura maneiras mais efetivas de realizar seu ativismo cibernético? É quanto a isso que a estrutura descentralizada do Anonymous deixa de ser vantagem e se torna problema. O movimento alega não ter líderes --bem, excetuados os "líderes" que estão colaborando com o Serviço Federal de Investigações (FBI)-- e, sem alguém que exerça a liderança, não é incomum que metas fáceis e de curto prazo (muitas das quais pouco mais que travessuras) ganhem precedência sobre os objetivos estratégicos de longo prazo.

Mas uma campanha on-line para defender a "liberdade na internet" não é como uma campanha on-line para arrecadar fundos para uma candidatura presidencial ou para as vítimas de um desastre natural. É preciso mais que alguns cliques ou doações. Além disso, os objetivos e prioridades de uma campanha como essa provavelmente mudarão o tempo todo, a depender do contexto político. Enquanto arrecadar US$ 1 milhão representa um dos mais claros objetivos imagináveis, defender a "liberdade na internet" requer constante interpretação, deliberação e discriminação entre diferentes cursos de ação.

As hierarquias não têm monopólio sobre o acerto, quanto a esse tipo de coisa, mas na ausência de uma maior burocratização e de uma aceitação clara de mecanismos decisórios formais e, acima de tudo, de disposição para aceitar a culpa quando as decisões acarretam consequências infortunadas, o Anonymous pode se provar ameaça tão grande à liberdade na internet quanto o maior inimigo do movimento, o governo dos Estados Unidos.

Publicado em: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/evgenymorozov/1078596-liberdade-na-internet-uma-ideia-ambigua.shtml

BlackBerry - Use com responsabilidade

Vídeo da BlackBerry alertando para o uso responsável dos smartphones.

Estamos todos vulneráveis

Por Pedro Doria.

Em setembro de 2011, duas fotografias da atriz Scarlett Johansson foram subtraídas de seu email particular e distribuídas publicamente pela internet. Numa, aparece um de seus seios, na outra, está nua de costas, a imagem refletida num espelho. Scarlett tem um BlackBerry à mão, nesta segunda. Posa para o marido que viaja. "Foi terrível", ela contou alguns meses depois à revista Vanity Fair. "Me senti violada. Não tinha noção de como nos tornamos vulneráveis."


No caso da atriz brasileira Carolina Dieckmann, cujas fotos igualmente pessoais foram distribuídas na sexta-feira, a história se repete. É olhar seu rosto na saída da delegacia e lá estão, estampadas, as mesmas sensações. Violação. Vulnerabilidade. Alguém a expôs e o fez porque um processo de chantagem não rendeu efeito.

Nós não temos noção de quanto nos tornamos vulneráveis.

Em nossos computadores — e tablets, e smartphones — está um bom pedaço de nossa vida. Pode ser uma fotografia íntima. A fotografia digital abriu um campo de possibilidades. Não é preciso revelar e ampliar numa loja. Um clique, e a imagem já existe. E, como tudo que é digital, copia-se num segundo. É inserir um pen drive e arrastar, colocar num email e enviar.

Mas mesmo que não seja fotografia. A planilha onde alguém tenta reorganizar suas finanças ameaçado por uma dívida acachapante está lá. O histórico daquilo que se busca no Google quando a noite cai e se está sozinho. Uma troca de e-mails guardada há anos com quem não se devia falar. Senhas, incontáveis senhas em que sequer pensamos: o browser já as digita automaticamente.

Chris Chaney, o hacker que capturou as duas fotografias de Johansson, não era um hacker. Ao menos, não no sentido de um especialista em computadores que burla sistemas complexos e escreve código como quem escreve uma redação de primário.

Chaney, um desempregado solitário com pouco mais de 30, fez algo mais simples. Descobriu o endereço de webmail pessoal da atriz e clicou o botão para quem esqueceu a senha. Lá se deparou com perguntas de segurança que, um dia, Scarlett respondeu. Todos nós conhecemos estas perguntas: qual o nome de seu bicho de estimação? O nome de solteira de sua mãe? A cidade em que cresceu? No caso da maioria de nós, encontrar estas respostas não é tão fácil. No de uma atriz conhecida, cuja vida é contada e recontada em cada canto da grande rede, está tudo a um Google de distância.

Ele já havia feito isso com inúmeras atrizes. Acompanhava suas vidas pessoais, as trocas de mensagens, sempre silencioso. E, em cada conta que invadia, discreto, mais uma penca de endereços eletrônicos de outras descobria. Quando chegou nas mensagens de Scarlett Johansson, descobriu também as fotos que a moça enviava para o marido. O desempregado solitário está preso. Cometeu um crime. A internet pode ser segura. Há programas gratuitos para Windows, Mac e Unix que criptografam parte ou todo do que temos. Senhas um pouco mais complexas e variadas fazem grande diferença. Dar respostas inusitadas, porém memorizadas, para perguntas de segurança, também. Não é difícil entrar num computador que esteja numa rede wi-fi pública. (Não requer um hacker brilhante.) Ter acesso ao que está criptografado no disco, após entrar no computador, é quase impossível.

É que ainda somos, todos nós, um bocado ingênuos a respeito de segurança. E custa incluir uma senha no celular, outra no login do computador, só para o caso de perda? No entanto, quantos o fazemos? Toda informação digital é fácil de ser copiada, não importa qual. Aceitar esta vulnerabilidade e iniciar uma cultura de proteção é um passo cada vez mais necessário. A internet, afinal, tem um quê de selvagem. Basta ler no Twitter o que tanta gente escreveu desde sexta-feira. Às vezes, dá vergonha pertencer à humanidade.

Publicado em: http://oglobo.globo.com/tecnologia/estamos-todos-vulneraveis-4836168

Os Meios de Comunicação como Extensões do Homem


Clássico de Marshall McLuhan, "Os Meios de Comunicação como Extensões do Homem" é um dos mais originais, revolucionários e desmistificadores livros já escritos sobre como nos comunicamos.

Um dos grandes pensadores do século 20, McLuhan discorre aqui sobre como o comportamento humano é influenciado pela linguagem, o discurso e a tecnologia na era das comunicações de massa.

O autor passa em revista as tecnologias do passado e do presente e mostra como os meios de comunicação de massa afetam a vida física e mental do homem, levando-o de um mundo linear e mecânico (da Primeira Revolução Industrial) para uma nova realidade da "era eletrônica" dos meios de comunicação, principalmente o rádio e a televisão.


Título: Os Meios de Comunicação como Extensões do Homem
Autor: Marshall McLuhan
Editora: Cultrix
Valor: R$39,10

Por que o Google Glass não é o futuro que precisamos


Por Pedro Burgos

O brinquedo tecnológico mais falado de 2012 não é um videogame, um iQualquer coisa ou o tablet da Microsoft, e sim o Google Glass. Porque nada parece tão 2030 quanto um computador-com-tela-acoplada-aos-óculos. Nos grandes jornais e portais, ele sempre é tratado como os “óculos do futuro”, e os efeitos especiais do primeiro vídeo de apresentação fez fãs de Homem-de-Ferro criarem grandes expectativas. Faltava vê-lo funcionando na prática. Na última semana, em seu grande evento anual, o Google poderia ter gastado todas as forças no novo tablet com um custo-benefício incrível, ou a versão para Android mais rápida e bonita, mas a gigante preferiu gastar muitos, muitos minutos e uma surperprodução digna de Michael Bay para anunciar que o Glass já estava mais ou menos funcionando, e estaria disponível para alguns desenvolvedores em algum momento de 2013 por US$ 1.500. Os fãs suspiraram, decepcionados, porque queriam o futuro agora. Eu não. Espero que ele morra o quanto antes, na fase de projeto. Para o bem da humanidade.

Eu já tinha minhas reservas em relação ao Google Glass, mas parecia estar sozinho nas críticas: a reação geral dos comentaristas à notícia dos óculos com um HUD era maciçamente positiva. E quem colocava em dúvidas o sentido do Glass ganhava logo a resposta automática que me fez parar de ter vontade de escrever sobre tecnologia: “Se fosse da Apple, você chamaria de mágico”. O argumento mais elaborado vinha na forma de “não podemos criticar o futuro sem saber como é” ou algo assim. Mas bom, acho que podemos criticar uma visão de futuro.

As pessoas de hoje (ao menos as que comentam na internet), parecem tão acostumadas a ter a atenção dividida que querem incorporar este modus operandi a todas as horas acordadas. Se assistimos ao Oscar e tuitamos no smartphone ou jogamos videogame prestando atenção em inúmeros contadores, nada mais normal que um picture-in-picture da vida real. “Pense nas possibilidades! Isso sim é revolucionário!”, diriam os mais empolgados, querendo aumentar o alcance da realidade aumentada.

Pensando videogamísticamente, é claro que há uma real utilidade para o Google Glass em algumas situações: médicos poderiam se beneficiar vendo, durante uma cirurgia, tanto as reações do paciente quanto a microcâmera dentro de uma incisão; militares ou policiais de forças especiais poderão receber informações visuais críticas mantendo o foco no que está à frente. Talvez engenheiros, biólogos e outros consigam usá-lo em situações profissionais, muito específicas e temporárias. Para mim, o ideal é que tudo funciona da mesma forma que um capacete de piloto: acabou o uso, você tira. Como o capacete de piloto, aliás, a ideia está muito longe de ser nova. Em um artigo de 1945, o engenheiro Vannevar Bush escreveu um artigo imaginando um futuro em que os cientistas usariam óculos capazes de fotografar automaticamente “tudo que fosse digno de registro”. Quando estiver funcionando perfeitamente, é o que o Glass pretende fazer.

Mas o que vimos na apresentação cheia de pirotecnia também não foi nada muito novo: pessoas com capacetes ligeiramente menos embaraçosos que registravam coisas “dignas de registro”. O uso demonstrado, de pessoas saltando de para-quedas e andando de bicicleta enquanto transmitiam as imagens para o mundo não foi muito diferente de uma câmera de ação no capacete com um modem nas costas (os paraquedistas tinham roteadores na mochila). Não entendo como uma câmera menor nos óculos pode ser tão incrivelmente diferente ou revolucionária. Mas pelos aplausos e comentários insanamente empolgados em blogs alhures, as pessoas aparentemente acham isso divertidíssimo e o querem hoje.

Mas o problema para mim é que ao fim da demonstração, os Googlers não tiravam os óculos. O que me incomoda profundamente na visão de futuro do Google é que eles acham que alguém fora Sergey Brin gostaria de usar isso o tempo todo. Um futuro assim é perturbador. Por vários motivos.

Privacidade e novas regras sociais

Ninguém se comporta naturalmente quando se depara com uma câmera ou um gravador. Mudamos a voz para falar, confidenciamos menos, somos mais atentos ao que fazemos, menos espontâneos – à exceção, talvez, de certos participantes da Fazenda. Agora, imagine encontrar um amigo com um mecanismo de transmissão na cara. É óbvio que as pessoas não reagirão naturalmente. Babak Parviz, o chefe do time do Glass, é polianamente otimista, e disse ao AllThingsD que a “etiqueta digital” vai evoluir, com as pessoas se acostumando a alertar as outras que estão gravando. Será que todos ficarão com a síndrome-do-tio-chato (que manda todo mundo sorrir pra fotos o tempo todo no Natal)? No mundo real, pelo que eu conheço da natureza humana, a graça vai ser justamente gravar sem o conhecimento do fotografado. Se o Glass vingar, espere uma profusão ainda maior de galerias de creep shots (no Brasil, os tais flagras de meninas com roupa de academia e coisas assim), como essa do reddit. Parece divertido pra você? Pense em outros desdobramentos.

Em setembro de 2010, Dharun Ravi, de 20 anos, tuitou: “Meu colega de quarto me pediu o quarto até a meia noite. Eu fui ao quarto e liguei a webcam. Eu o vi transando com um cara. Yay.” O seu tímido recém-chegado colega de quarto da Universidade de Rutgers, Tyler Clementi, 18 anos, obviamente não sabia que seu encontro estava sendo transmitido via um Justin.tv da vida. Três dias depois, Clementi se suicidou, num caso que provocou amplas mudanças na lei e campanhas nas universidades americanas. Sim, é um caso extremo com uma reação extrema. Mas pense de novo no caso das fotos e vídeos de “ex-namoradas” que vazaram. Há inegáveis estragos sobre as vítimas. Agora pense numa ferramenta que permite tornar isso incrivelmente mais fácil e discreto, que precisa de zero tempo de setup e onde o xeretado não fica sabendo. Você pode ser uma pessoa de bem, mas nós como sociedade estamos preparados para usar isso de maneira responsável?

Pouco depois do suicídio de Clementi, Walter Krin escreveu no New York Times que George Orwell imaginou o “futuro” (os nossos tempos atuais) de maneira bem mais simples há 60 anos, quando escreveu 1984. Para Krin, em vez de termos um “Big Brother” que vigia todos, temos um exército desorganizado de Little Brothers, que não precisa de uma ditadura para criar um estado de vigilância. “A invasão da privacidade – de outras pessoas mas também de você mesmo, enquanto nós apontamos as nossas lentes para a gente na busca pela atenção a qualquer preço – foi democratizada.” O artigo fala da profusão de webcams e câmeras no celular que nos taggeiam em fotos embaraçosas no Facebook ou vídeos no Youtube. Queremos, de novo, um aprofundamento deste problema?


Poucas vezes o The Onion falou tão sério quanto neste vídeo onde um diretor da CIA diz que o Facebook reduziu os custos dos espiões.

Já temos imagens o suficiente, obrigado

Ontem de manhã o Instagram ficou fora do ar. No Twitter, começaram as piadas, do tipo “A comida vai esfriar. O Instagram precisa voltar pra eu tirar foto”. Ou “como vou aproveitar o dia de sol em São Paulo sem o Instagram?” Alguns acharam uma forma.


























A piada do #instagramporescrito expõe nosso vício em compartilhar imagens o tempo todo. Há imagens lindas, mas há imagens sem contexto, imagens banais, imagens importantes que se perdem no meio de mil outras. Não sou contra o Instagram, pelo contrário: eu adoro o negócio. Mas dificilmente posto mais de uma foto por semana e sigo bem pouca gente. O ponto, no Instagram e em qualquer outra tecnologia, é saber como usá-la e saber até que ponto ela é boa: se você se vicia em likes e compartilhamentos, pode ficar extremamente ansioso se ficar sem (algumas pessoas que conheço morreriam sem o 3G); da mesma forma, seus amigos podem perder interesse nas suas histórias genuinamente interessantes quando elas se perdem entre 80 mil updates banais. Não é fácil achar o equilíbrio.

A discussão sobre o poder e o excesso do uso da imagem, obviamente, também não é nova. Em 1890, por exemplo, quando uma foto não autorizada do casamento da filha de Samuel Warren, um advogado inglês, foi publicada, os advogados reclamaram da revolução industrial, de como as fotos estavam “invadindo a privacidade”. E nos anos 1970, Susan Sontag já decretava que “viajar se tornou uma estratégia para acumular fotos”. Sobre isso, Sherry Turkle, do espetacular Alone Together: why we expect more from technology and less from people (Sozinhos, juntos: por que esperamos mais da tecnologia e menos que das pessoas), se pergunta:

Na cultura digital, será que a vida se torna uma estratégia para estabelecer um arquivo? Pessoas jovens moldam a vida para produzir um perfil de Facebook que impressiona. Quando nós sabemos que tudo em nossas vidas é capturado, será que vamos começar a viver a vida da forma que sonhamos ser arquivada?

A pergunta parece exagerada, mas o Instagram por escrito e o fato de as pessoas esconderem Lady Gaga de seu Last.fm faz a reflexão necessária: a nossa capacidade de registrar e transmitir ao mundo não têm o poder de moldar sutilmente nossas atitudes? Quando estivermos com um aparato que marca cada passo nosso e registra cada imagem que passa pelas nossas retinas, será que este estímulo narcisista não ficará ainda mais poderoso e irresistível?

Pelo histórico e a lógica de negócios do Google, o constante registro e arquivamento da nossa vida – e não o uso ocasional – parece ser o objetivo do Glass: das buscas registradas no Google aos lugares que marcamos no Maps ou fotografamos para o Picasa, tudo é informação relevante para a empresa de Mountain View vender o seu principal produto: nós todos. Parece papo conspiratório, mas 98% do dinheiro que o Google ganha vem da publicidade. Os esforços para aumentar o alcance de sua rede G+ são justamente uma reação ao Facebook: a rede de Zuckerberg sabe cada vez mais detalhes sobre nós, e pode vender anúncios mais direcionados, mais valiosos. Vale a autocitação? O que eu acho importante:

Ninguém quer usar o Google+, porque os amigos estão todos no Facebook – ou fora das redes sociais. Mas o Google precisa do social. Então por que não criar um outro mecanismo, tipo óculos que coletam informações pessoais ainda mais íntimas e específicas, que as pessoas ainda estejam com vontade de pagar uma grana razoável para ter? No papel, parece o sonho da grande empresa de publicidade que é o Google. E, como tudo que vem da empresa, as pessoas parecem ok em ceder muitas informações pessoas para ter um serviço gratuito ou muito barato em troca. O acordo tem funcionado.


Mas mesmo para quem tem a visão romântica de que o Google é uma empresa “do bem”, seguindo uma “visão” de seus fundadores de não fazer o mal e que, ao contrário de todas as outras, seu objetivo principal não é o lucro, mas sim evoluir a tecnologia da humanidade e o acesso ao conhecimento. A pergunta permanece: pra quê colocar na rua este trambolho? De que maneira ele melhora – somando as facilidades e subtraindo os problemas – a nossa vida? O motivo pode ser trivial: muitas das coisas que o Google faz não tem o uso de pessoas normais ou os benefícios sociais levados em consideração em primeiro lugar. É uma empresa excessivamente de engenheiros, para aficionados por tecnologia. Mas o Google Glass especificamente é de longe o pior exemplo disso.

Acompanhe a apresentação do produto. A dupla de engenheiros-criadores cita várias situações em que o Google Glass iria “mudar nossas vidas” e para cada uma delas eu tinha uma resposta.


Vale ver, não só pra ficar mais claro quão socialmente ineptos são os criadores do Glass, mas para tentar entender a argumentação.

* “Um cara do nosso grupo postou essa foto dele chegando de uma corrida, que não seria possível sem os óculos”. Minha resposta: Alguém precisa disso? O tanto de “Eu completei uma corrida com o Nike+” na minha timeline não é suficiente? Pra que ele precisa de ter essa imagem?

* (Mostrando uma pessoa consultando o celular enquanto outra fala alegremente) “Estamos acostumados a nos abaixarmos para olhar no celular no meio da conversa, consultar coisas, e isso é incrível. Mas tira você ‘do momento’. Não com o Glass.” Todas as saídas para o bar que fiz onde rolou um Phone Stacking foram seguramente mais divertidas. Não é porque o cara vai checar o email ou fazer check-in “pelos óculos” que a coisa vai ser menos mala. Ele vai continuar longe.

* (Vídeo em primeira pessoa de alguém andando de mountain-bike) “Pense nas possibilidades: o ciclista pode saber a velocidade que está sem perder o contato com a natureza”. É obviamente um engenheiro que não toma sol falando de algo que não sabe. Todos os amigos que conheço que curtem andar de bicicleta (eu inclusive) querem mais é justamente curtir a natureza e o momento, sem muitas interferências que podem ser, inclusive, perigosas.

A lista segue. “Olha como é mais fácil tirar fotos de crianças” – como se alguém precisasse de ainda mais fotos de bebês. Fora um exemplo dos óculos fotografando o passo-a-passo de uma receita (é bem mais fácil se você quer cozinhar e ensinar para outra pessoa), não consegui ver uma única coisa genuinamente boa, quanto menos necessária. No fim, eles jogam a bola para os desenvolvedores, dizendo que estão ansiosos para “as funcionalidades incríveis que vocês vão criar”. Porque até agora não rolou uma única, ele quis dizer.

No vídeo original de divulgação, vi coisas interessantes. É, sim, romântico cantar pra namorada compartilhando a sua vista do por do sol. Mesmo. Estar longe e aparecer em um Hangout, Skype, Facetime ou qualquer coisa para as pessoas importantes é realmente legal, possivelmente mais legal que um telefonema. Mas há alguns motivos para a videoconferência não ter pegado até agora. Quando ela vira rotineira, há dezenas de problemas que evidenciam como a simulação de realidade está muito longe da realidade em si e criam um desconforto. Poderia me alongar um bocado nisso e um dia prometo fazê-lo, mas por ora leia depois este artigo da GQ.

Alguém sabe o efeito disso no nosso cérebro?

A ideia do Glass é colocar o visor acima do olho para que você “continue no lugar, mantendo contato visual com as pessoas”. Essa explicação dos engenheiros soa bonitinha, mas é tão primária e desinformada em relação ao entendimento do cérebro humano que me deixa dúvidas se alguém fora da área de exatas esteve perto do projeto em algum de seus dois anos e meio de desenvolvimento. Podemos começar a desmontar a visão deles só pensando sobre olhar pra frente, especificamente: você já percebeu que quando temos algo difícil ou importante para falar a uma pessoa é bem comum dar pausas mais longas e olhar um pouco para baixo ou para cima? Isso não é particular dos tímidos. Acontece que simplesmente olhar na cara de uma pessoa é mentalmente trabalhoso. Temos que decifrar o que as expressões dela querem dizer, interpretar um leve sorriso e associar a memórias. Precisamos dar uma pausa nesse fluxo de informações quando estamos tentando organizar um pensamento mais complexo, concatenar as ideias na nossa cabeça antes de falar. Da mesma forma, quando estamos perdidos em algum lugar com o carro abaixamos o volume do som instintivamente. Sergey Brin acha que o Glass vai interromper menos a gente. “Porque quando você está segurando um telefone e olhando pra baixo está tirando você do ambiente à sua volta”.

A solução, Brin, é olhar menos para o telefone e prestar mais atenção ao ambiente. Não colocar a tela do telefone na nossa cara.

É bem verdade que por questões evolutivas, o nosso cérebro se dá razoavelmente bem em lidar com estímulos paralelos: conseguimos dirigir numa rota conhecida, conversar e notar um cheiro esquisito ao mesmo tempo. Nem somos tão bons assim em foco, aliás. Mas isso não quer dizer que interrupções constantes e muitas informações ao mesmo tempo são boas. Pelo contrário: há um número crescente de evidências científicas que mostram que o excesso de informações e a falta de pausas entre os estímulos prejudica a nossa compreensão. A questão é amplamente examinada em estudos no livro A geração Superficial, de Nicholas Carr. Neste artigo da Wired ele elenca diversas pesquisas que comprovam que, por exemplo, um texto sem hyperlinks aumenta a compreensão em relação ao assunto tratado em comparação ao mesmo texto cheio de armadilhas para que as pessoas saiam da página. É uma questão de educação, é claro. Eu espalhei este monte de links no texto como referência, mas eu leio tudo antes para não perder o fim da meada, antes de clicar em algo, e espero que vocês façam o mesmo.

A ideia do Glass é espalhar links nas coisas de verdade. De novo: alguém estudou os efeitos no cérebro das nossas atuais tecnologias antes de propor algo que favorece ainda mais a multitarefa alucinada? O campo de pesquisas do impacto da tecnologia no nosso comportamento ainda é bastante novo, mas em um livro lançado há poucos meses, o médico Larry Rosen, dos maiores estudiosos do assunto, propõe que muitas pessoas, especialmente os mais jovens, sofrem de o que ele batiza de iDisorder (uma doença referente à Apple, caso você não tenha pescado a sacadinha). A moléstia moderna seria uma soma de outros transtornos psiquiátricos, do narcisismo à depressão passando pelo Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Rosen argumenta, baseado em diversos estudos recentes, que as novas tecnologias, especialmente os smartphones conectados a email, SMS e redes sociais o tempo todo potencializa qualquer predisposição a essas condições. Afirma o pesquisador:

Enquanto uma porcentagem da população foi diagnosticada com este transtorno, nossa dependência em tecnologia, a disponibilidade da internet 24 horas por dia, 7 dias por semana e nosso constante uso de dispositivos faz com que todos nós nos comportemos como se tivéssemos TDAH.” 


Nosso cérebro está sempre se adaptando, é verdade, mas qual é o limite? Até quando conseguiremos lidar com tanta coisa ao mesmo tempo? Como ele vai saber que o email que precisamso responder tem prioridade sobre a 49ª partida de SongPop do dia? Eu diria que muitos já passaram um bocado do limite do sustentável pelas nossas mentes. Além de distrair mais ainda a privacidade institucionalizando os Little Brothers, o Glass é um prato cheio para potencializar as distrações. Queremos isso? Eu dizia secretamente que um dos grandes trunfos do iPad, no início, era que ele não tinha multitarefa. Depois do iOS 5, ficou muito mais difícil ler livros nele. Se a narrativa ficava chata por 3 parágrafos, apertava o home e ia jogar qualquer coisa ou clicar em uma notificação que aparecia em cima, sem nem pensar. Nós queremos ter controle, e até estou aprendendo algumas técnicas, mas no fundo somos fracos.

E, veja, estou apenas tocando algumas das possíveis implicações fisiológicas. E em relação à nossa visão? É claro que o modelo de telinha ainda vai evoluir muito, mas quão saudável é ficar alternando o foco para algo próximo? Muitos de nós já temos a Síndrome da Vibração Fantasma (quando sentimos o celular vibrando, mesmo quando ele não está), mas e quando nos acostumarmos com alertas, vamos ver pontos mesmo quando eles não existirem? E o impacto de terceirizar boa parte do nosso conhecimento, de maneira mais prática e instantânea? Além de diminuir o valor de pessoas como o PVC, o excesso de confiança em fontes externas de conhecimento diminui a nossa individualidade e nossas opiniões sobre tudo – ainda mais quando o filtro da busca é justamente as nossas pesquisas anteriores. De novo: isso já é um problema atual, que apenas se aprofundaria se a visão do Glass-cotidiano vire realidade.

A resistência é fútil?

É difícil atacar tão fortemente uma “grande inovação tecnológica” sem ser tachado de ludita, anti-tecnologia, velho ou coisa pior (se a evolução é do Google, você é Fandroid. Se a evolução é da Apple, obviamente você é pago pela maçã). Mas eu fiquei 3 anos escrevendo diariamente sobre a evolução tecnológica, além de pesquisar profundamente o assunto para o meu livro (nas livrarias em novembro, se tudo der certo! =)) e acho que tenho algum direito de pensar “ei, isso não é desejável” quando vejo coisas como o Google Glass, por todos os motivos levantados acima. O único outro artigo que vi atacando a invenção é o de Jolie O’Dell, do Venture Beat:

O Glass, como mostrado hoje, é mais um perturbador passo em direção à web de conectividade toda-social, sempre-ligada, que não é um meio para um fim, mas uma causa e consequência em si mesma. É o ideal da mente coletiva que, em muitos aspectos, já chegou.

No fim, Jolie concede que “A resistência é fútil”,  que o negócio será lançado e será um sucesso. Eu gostaria de poder parar o desenvolvimento do Glass ou pelo menos redirecioná-lo fortemente, mas minha opinião não tem todo esse alcance. E, de todo modo, há poucos indícios de que corrigiremos o curso para algo menos ultraconectado – acho a chegada do botão “não perturbe” no iOS 6 um micropasso nessa direção. Em um dos melhores livros sobre inovação tecnológica, What Technology Wants (O que a Tecnologia Quer?), Kevin Kelly compara a nossa dependência atual com nossos aparatos a outras relações biológicas do reino animal. Em 2010, ele profetizava:

Está muito claro que nós estamos criando uma memória simbiótica com a internet e as tecnologias Googlianas. Quando o Google (ou um de nossos descendentes) for capaz de entender perguntas faladas naturalmente e estiver vivendo em uma camada das nossas roupas, nós rapidamente absorveremos esta ferramenta em nossas mentes. Nós dependeremos dela, e ela vai depender de nós – tanto para continuar a existir quanto para ficar mais esperta, porque ela depende de mais gente usando para melhorar a sua compreensão. Algumas pessoas acham essa simbiose assustadora, mas não é muito diferente do nosso uso de papel e lápis em uma longa divisão.


De fato, a tecnologia precisa da gente. Pensando apenas economicamente, é razoável dizer também que o Google precisa de cada vez mais informações nossas para ganhar dinheiro com publicidade e espantar o Facebook do mercado de anúncios ultradirecionados. O Glass será uma excelente arma, sedutora para muitos de vocês. Mas será mesmo que a resistência é fútil? No livro, Kelly fala que há poucos exemplos de uma tecnologia disruptiva que foi rejeitada ativamente por um povo. O maior deles? Por questões complexas que passam pelo código de honra samurai, o Japão foi o último país do mundo razoavelmente desenvolvido a adotar a pólvora: seu atraso em 200 anos para usar a tecnologia facilitou a derrota em algumas batalhas, é verdade. Mas é impossível dissociar esse histórico ao fato de que hoje a sua polícia não usa revólveres e a sua taxa de homicídios por armas de fogo é ridiculamente baixa. No Japão, 43 pessoas morreram com um tiro em 2002. Em Maceió, 15 foram baleadas fatalmente em um único fim de semana deste ano. Quão melhor seria a nossa sociedade se tivéssemos rejeitado totalmente essa tecnologia?

Estamos acostumados a usar um bocado antes uma tecnologia sedutora e avaliar/limitar o uso bem depois, quando a situação começa a ficar incontrolável: vide o exemplo do privilégio do carro nas grandes cidades. Este não é o único caminho. Será que podemos parar um pouco para pensar se queremos mesmo que uma empresa que literalmente lucra com a nossa falta de privacidade coloque um computador do qual não podemos desviar o olhar na nossa frente o tempo todo? Com uma câmera que captura tudo à nossa frente? O freio seria bom. Podemos começar a discussão civilizadamente aqui embaixo, queria ouvir a opinião de vocês e esclarecer algumas das minhas.

Publicado em: http://jezebel.uol.com.br/por-que-o-google-glass-nao-e-o-futuro-que-precisamos/